Sexta, 10 Março 2017 02:42

    Jogo do bicho (modalidade síria) Destaque

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    Nos anos 1940, depois de desmembrado do Estado do Amazonas e chegado à condição de território federal, o Rio Branco – esse foi o nome dado a uma das novas unidades da Federação – recebeu migrantes de diversos lugares. A grande maioria tinha deixado suas terras natais para buscar dias melhores cá nessas plagas. No meio de nordestinos, alguns sírios também descobriram a nova fronteira brasileira.

    Comerciantes se estabeleceram na rua principal de Boa Vista, a capital. Entre novos moradores, um desses sírios, ao ouvir falar sobre fortunas que banqueiros do jogo do bicho faziam no Rio de Janeiro, resolveu, ele mesmo, criar sua loteria zoológica. Sem conhecer os mecanismos usados na capital federal, Efraim, utilizando os mesmos 25 animais escolhidos por Barão de Drumond, escolhia, pela manhã, o nome do bicho a ser dado na apuração, escrevia-o em pequeno pedaço de papel, colocava esse papelucho numa caixinha de madeira e, por meio de barbante, deixava-a no topo de um mastro. Ao entardecer, a caixa era arriada e todos ficavam sabendo o resultado.

    Naquela época, no Maracangalha, barzinho onde se serviam cervejas mornas e bebidas quentes pegando fogo, a canalha resolveu contratar Agamenon, adolescente que vivia sob a tutela de Efraim para que, sem desconfiança do velho, visse o nome do bicho a ser escolhido para a tarde de sexta-feira.

    Cedinho, quando Efraim desenhava letras no papelucho, Agamenon esgueirou-se para ajudar os frequentadores do bar e defender um trocado para si. Pelas onze da manhã, no barzinho, o menino, sem jeito, tentou justificar-se:

    - Olha gente, não deu pra ver direito... Mas eu garanto que o bicho começa com B.

    Com propósito de quebrar a banca do neófito bicheiro e fazer farra com a grana do prêmio, os clientes de Abel Mesquita carregaram apostas no burro e na borboleta – únicos animais pertencentes ao jogo a iniciar-se com a letra B.

    Velho Efraim estranhou o grande volume de concorrentes naquele dia.

    Ao final da tarde, mais de 100 pessoas em volta do mastro, todos com sorrisos marotos estampados nas faces, viram o velho descer a caixinha, abri-la, desdobrar o papelucho e anunciar:

    - Brimas, deu biru!

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    Lido 24 vezes Última modificação em Sexta, 10 Março 2017 02:43
    Aroldo Pinheiro

    Aroldo Pinheiro,  roraimense, comerciante, jornalista formado pela Universidade Federal de Roraima. Três livros publicados: "30 CONTOS DIVERSOS - Causos de nossa gente" (2003), "A MOSCA - Romance de vida e de morte" (2004) e "20 CONTOS INVERSOS E DOIS DEDOS DE PROSA - Causos de nossa gente".

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