Ela chegou aqui em casa como um foguete. Ainda bebê, mas agitadíssima. Sol Monte Roraima, com nome e sobrenome, inaugurou a raça labrador entre os cães da família. Branquinha, circulava com desenvoltura entre mesas, cadeiras, poltronas, como se fosse a dona do pedaço. E foi. Durante quase dez anos, reinou soberana. Até hoje, 10 de abril, quando nos deixou.
O tempo de traquinagem durou um ano intenso, se muito. Subia e descia das camas com ou sem as patas limpas. Puxava cobertas, mordia pés dos móveis de madeira, exigia atenção redobrada da turma da casa, Marlete e Amarildo, sempre carinhosos, na linha de frente.
Com o tempo, o pelo branco virou caramelo; passou a ter atitudes adultas. Mesmo assim, já com os seus três anos, detonou o ex-futuro almoço da casa, quando dona Nilcéa, mãe da Daysy, bobeou com a carne sobre a pia. Enquanto ela atendia ao telefone em outro cômodo, a Sol levou todos os bifes para o quintal e fez a melhor refeição de sua vida. Longe de reprová-la, achamos graça, inclusive a vó Ceinha. Como reclamar de cadela tão meiga e amiga?
Gulosa, ficava à espreita de aparecer alma caridosa disposta a enriquecer o cardápio de ração, quem sabe, com banana ou manga, suas frutas preferidas. Se engordava, João Marcelo, nosso filho mais novo e parceiraço da Sol, decretava dieta sem exageros.
Com a Marcinha e a Bela, filha e neta, a relação era de amizade total. Em vez de levantar uma pata, levantava as duas! Amor incondicional.
Respeitava o espaço de meditação da Daysy, com quem tinha sintonia finíssima. Parecia entender a finalidade do local. Bagunça, ali, nem pensar. Conhecia cada cantinho da casa. Foi minha parceira de todas as horas; fiel escudeira muito amada.
Antes de nos deixar, ainda teve tempo para a última travessura: ao esticar a pata, ela quebrou o rabo do cavalo da escultura da sala. Se depender de mim, ficará como está. Será lembrança a mais da nossa companheira inesquecível. Sol Monte Roraima, você foi demais! Saudades.