Parece enredo de novela. A pessoa está saudável e, de repente, os movimentos dos dedos, mãos e braços começam a falhar. Aos poucos, o quadro piora. Procurados, os médicos ficam em dúvida sobre o caso. Tempos depois, vem o diagnóstico devastador. A
doença tem nome esquisito: Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA). Pior: a expectativa de vida é de, no máximo, cinco anos.
Alexandre Magno de Oliveira recebeu a notícia como se tivesse levado um soco no estômago. Primeiro, ele entrou em desespero; depois, decidiu encarar a briga de frente, ajudado pela família e por equipe multidisciplinar de profissionais de Saúde. Se era para morrer, resistiria até o fim.
Hoje, vinte anos depois do primeiro sintoma, ele venceu a batalha. Recusou a condição de condenado à morte. Formou-se em Letras, aprendeu a lutar Taekwondo – com direito a título internacional paraolímpico inédito -, tornou-se exemplo de superação. O diagnóstico atual garante a cura total da
doença. Novela com final feliz.
O drama de Alexandre começou em São Paulo, em 1997, com o fim do casamento e os primeiros sintomas da doença. Longe das filhas, que voltaram para Boa Vista, pressionado pela perda gradual dos movimentos, no final do ano, Alexandre também retornou a Roraima, onde teve o apoio da família. Até então,
ninguém identificara a doença.
No ano seguinte, por recomendação de seu médico roraimense, ele foi para o Rio de Janeiro. Lá, o impacto da notícia. Depois de vários exames, tudo indicava a ELA, doença autoimune e, diz-se, sem possibilidade de recuperação.
O CAMPEÃO E SEU ENTORNO - Mestre Marcelo Rezende, Alexandre Magno de Oliveira, Alan Nascimento, que é presidente da Federação Brasileira de Parataekwondo e Mestre Roberto Azevedo, técnico e preparador para campeonatos (FOTO: DANIEL VASQUEZ)
Volta por cima
O jogo começa a virar quando um primo, médico em São Paulo, o encaminha ao clínico paulista Mauro Roberto Sbano, imunologista e homeopata. Interessado pelo caso, ele envolve sua equipe multidisciplinar no problema, com a psicóloga Débora Tricta Quaresma Rodrigues e a terapeuta corporal Vera Lúcia Curvo Leite. “Encontrei com eles novas maneiras de olhar a vida e a morte. Descobri a importância de me perceber e de dar atenção ao que eu percebia. Aprendi a conversar comigo. Não é falar sozinho, mas me entender com a minha essência. Com isso, tive minha espiritualidade revigorada, sem se tratar de religião. Apenas eu com meu Deus interior, como gosto de falar”, comenta Alexandre.
Em 1999, Alexandre conheceu o neurologista Acary Souza Bulle de Oliveira, então presidente da ABrELA (Associação Brasileira de Esclerose Lateral Amiotrófica) que, de imediato, identificou a doença. Como primeira providência, foi aposentado por doença grave. Ele precisava concentrar-se no combate ao mal, entendia o dr. Acary. Já o doutor Mauro Roberto introduziu a medicação homeopática. Psicóloga e terapeuta continuavam a trabalhar forte no caso. O paciente ainda estava bastante abalado. Somente em janeiro de 2002 Alexandre tomou a atitude certa: enfrentar a ELA. “Se não me matou até agora, não matará mais”, decidiu. Em 2003, ele passou no vestibular da USP, onde se formou em Letras, com habilitações em Linguística e Língua Portuguesa.
Alexandre mora sozinho em São Paulo desde aquela época. Teve apoio do pai, o cronista e escritor Afonso Rodrigues de Oliveira, durante os primeiros cinco anos na capital. Passou a fazer trabalhos técnicos de tradução, enfim, ocupou-se.
Glória com Taekwondo
Em 2011, o Taekwondo entrou na vida dele. Começou como terapia, passou a atividade importante e terminou com a medalha de ouro no Campeonato Pan-americano de Parataekwondo, em 2012, na Bolívia, ao lado do colega Jadson Souza. No mês seguinte, em Aruba, a dupla conquistou medalha de bronze no
Campeonato Mundial. Atualmente, Alexandre é professor – 3º Dan – de taekwondo e parataekwondo. Em junho de 2016, ele foi homenageado pela Câmara Municipal de São Paulo pelo pioneirismo em campeonatos internacionais.
O médico Mauro Roberto Sbano analisa que “o Alexandre se modificou muito, pois tinha uma atitude exageradamente rígida consigo e com as demandas que gerava. Casamento infeliz, filha especial e ele tinha que suprir todas as demandas como um super-herói. Essa foi nossa estratégia, desconstruir esse herói e construir um ser real e humano”, finaliza.