A coisa começou sem que ninguém sentisse. Com o aumento de venezuelanos fazendo compras, Roraima até festejou: faturamento e arrecadação aumentaram. Dinheiro na praça.
À falta de bens de consumo, de medicamentos, de tratamento de saúde e de segurança na Venezuela, nossos irmãos bolivarianos começaram a atravessar a fronteira com ideia de ficar no Brasil. 10, 20, 50, 100 por dia.
Limpadores humanos de para-brisas surgiram em semáforos; vendedores ambulantes de quinquilharias se aboletaram em esquinas, portas de bancos, de farmácias, de restaurantes; pedintes passaram a incomodar a paz local; prostitutas tomaram conta de grandes áreas periféricas, para, nelas, exercer a profissão; e a criminalidade aumentou. Muito.
Governantes locais deram-se conta de que o problema era mais sério – e duradouro – do que se pensava. Ideias de como resolver o problema se chocavam: alguns pensavam em fechar a fronteira; outros falavam em acolher imigrantes com moradia, alimentação e uma graninha para despesas eventuais.
Com o agravamento da crise no país vizinho, os problemas de lá se transferiram para cá. Dezenas de milhares de estrangeiros se espalham pela capital, Boa Vista, em busca de comida, atendimento médico, moradia. Em hospitais, eles ocupam leitos que já não existiam. Na maternidade pública, mais venezuelanas paridas do que brasileiras.
Ao fim de seu governo, Michel Temer modificou e flexibilizou o Estatuto do Estrangeiro, dando mais direitos a quem invade as Terras Brasilis.
Bolsonaro adotou medidas para contornar o problema. Medidas pífias. Medidas tomadas por Brasília, por pessoas que não conhecem o problema de fato.
O Exército Brasileiro faz um belo trabalho. Bonito, mas quase inócuo, pois poucos imigrantes são acomodados em abrigos e muitos menos se beneficiam do programa de interiorização. A parcela maior de obrigações fica com o Governo de Roraima. Estrangeiros invadem nossas ruas, hospitais e nossas escolas sem que Brasília nos dê nenhuma compensação.
Em pelo menos duas ocasiões, Brasília nos enviou autoridades para sentirem a situação. Autoridades viram o que lhes foi mostrado; o Roraimense sente a desgraceira do dia a dia. Ministros se acomodam: o tempo passa e eles têm mais o que fazer. Ao governo de Roraima resta espremer-se, espremer orçamento até o dia da explosão.
O caldeirão vai explodir. O que Brasília não vê é Roraima quem sente.