Desde criança ouço darem a São Pedro poderes imensos como “Porteiro do Céu”. Talvez tenham interpretado mal o Evangelho de Mateus, no qual o assunto é tratado. Basta chover e lá vem o papo de “São Pedro está lavando o céu” (com direito ao uso do gerúndio). A trovoada assustou? ”É São Pedro arrastando os móveis no céu” (e tome gerúndio).
Quando chegamos em Roraima, em janeiro de 1981, o clima funcionava com perfeição. Entre abril e agosto – às vezes, setembro -, o ex-território federal vivia o período das chuvas, com maior intensidade em junho e julho. Nos demais meses, tínhamos o período de sol a pino, com o veranico (chuvas fora de época) no fim de novembro, começo de dezembro. Como se dizia antigamente, com a pontualidade de relógio suíço.
Você podia marcar as festas de fim de ano ao ar livre sem o menor perigo de ser apanhado de surpresa com chuvas indesejáveis. Pelo menos até 1999, quando vimos chover naquele período pela primeira vez em quase duas décadas. Pensamos até ser influência da virada do Milênio, o tal bug prometido para bagunçar computadores do mundo inteiro. Se a chuva bateu o ponto, o bug, ainda bem, levou falta.
A partir daí, o tempo ficou descontrolado. Deixou de respeitar os antigos períodos. Os anfitriões passaram a ter cuidado ao planejarem eventos. O pessoal do agronegócio, principalmente pequenos agricultores, passaram a acumular prejuízos com o regime de chuvas desajustado, para mais ou para menos.
Vivemos os últimos dias de 2022 com a sensação de estarmos no caos meteorológico. Chegou setembro, veio outubro, estamos a dois dias de dezembro e tome chuva. O veranico virou veranaço (se é que a palavra existe).
De quem é a culpa de o tempo estar descontrolado? Há opiniões de todas as tendências. A briga de versões continua em todas as plataformas existentes. Enquanto discutem, o tempo continua imprevisível. Minha preocupação é, depois de tantas teorias, culparem São Pedro. Quem manda ser porteiro do céu?