Resgatado pelo Samu no dia 30 de agosto, após reportagem Um homem invisível, publicada no jornal Roraima Agora, o andarilho habita em novo endereço: maca nº 5, em corredor do pronto atendimento.
Por lá, mesmo em sua mudez habitual, já arrumou amigos e até quem zele por ele. “Uma ‘enfermeira’ veio aqui hoje [segunda, 7], deu banho nele, trocou fralda e ainda passou perfume. Ela deu nome pra ele. É José”, conta, sorridente, Mara Cardoso, que acompanha o marido, Antônio Ferreira, com complicações no pé direito por causa da diabetes.
Com aparência saudável, nem parece aquele mendigo dos cabelos formando dreads pela graxa de sujeira. Agora, faz as três refeições do dia, lanche, sem dispensar um mingau antes de dormir. “Ele é bom de ‘boca’”, avisa Mara, ao dizer que guardou marmita para o indigente comer mais tarde. Já passava das oito da noite.
Embora tenha recebido pelo menos uma visita nesses dias em que está internado, na assistência social do hospital não há nenhum registro de parentes à procura do desconhecido. É assim que ele é identificado na placa afixada sobre seu leito. “Veio um casal aqui. O homem perguntou dele: ‘Tu lembra’ de mim? Eu conheço teu pai, teus irmãos’”, narra o paciente Ferreira. “Depois, eles foram embora e nunca mais voltaram”, completa.
Uma sacola com cobertor, sabonete, barbeador, escova de dentes e perfume, deixados por alguém, são, agora, sua bagagem de uma vida inteira. É possível que “José” volte a morar nas ruas, ainda assim, os dias internado no hospital deram-lhe nome e cuidados que, talvez, tenha tido pela última vez no dia de seu nascimento.