De Sena Madureira, no Acre, ela mudou-se para Manaus. “Uma minha irmã disse que ‘a riqueza estava aqui, onde diamantes brotavam nas ruas’”. Com 33 anos, espírito de aventura nas veias, Francisca Baltazar deixou emprego, amigos e familiares para trás e, com 11 outras pessoas, entrou num “motor”, enfrentando 19 dias de viagem sobre a água, cortando florestas, até chegar à terra prometida.
Em Boa Vista, umas poucas almas vivendo em casebres plantados no meio do nada foi tudo o que ela encontrou. “Pensei em voltar. Mas como? O ‘motor’ já havia partido e ninguém sabia quando teria outro. Fui ficando...”, conta Dica, com um sorriso nos lá.
Na administração do recém-criado território federal, Francisca conseguiu emprego e, aos poucos, adaptou-se à modorrenta, mas agradável, vida do lugarejo.
Passado algum tempo, Dica casou-se com Francisco “Chiquito” da Silva e, ao mundo, trouxe cinco bonitas meninas que, quando adolescentes, faziam garotos subir e descer ladeira, só para verem – e serem vistos – pelas três loirinhas do Calungá.
As loirinhas e duas morenas deram 10 netos, 27 bisnetos, seis trinetos e um tetraneto a Francisca Baltazar da Silva. No dia 6 de janeiro, sábado, as meninas e boa parte dessa gente que veio ao mundo a partir da acreana se reúnem e homenageiam a centenária.
(ARQUIVO PESSOAL)
ROTINA
Dona Dica não dá trabalho. Não tem nenhum problema da saúde, não tem dieta especial. “Como de tudo, mas minha preferência é pizza com Coca-Cola”, afirma. A centenária ocupa o tempo com leitura, livros de pintura e orações. Rezar terço diariamente é coisa sagrada para ela.
A velhinha gosta de passear e as filhas sempre lhe proporcionam visitas a cidades vizinhas e balneários.
Comparando a vida de tempos passados com os dias de hoje, ela só reclama da violência: “Antigamente, nossos filhos saíam e a gente ficava despreocupada; hoje não. Hoje, mesmo atrás de grades, a gente vive com medo”, lamenta.
Dona Dica agradece a Deus por ter uma família muito unida e atribui ter chegado a essa idade porque sempre procurou fazer o bem e vive sem se preocupar com o que o Senhor há de trazer.