Após décadas sem registro de nenhum caso de paralisia infantil nas Américas, doença volta a preocupar
A notícia pegou todos de surpresa. Depois de 29 anos sem registrar qualquer caso de poliomielite no continente, uma criança indígena, de dois anos e dez meses, apresentou sintomas da doença, na comunidade Delta Amacuro, região nordeste da Venezuela. Imediatamente, a OPAS (Organização Pan-americana de Saúde) emitiu alerta a todos os países onde recomenda intensificar a vacinação contra a pólio.
O Brasil ainda deve ser considerado como modelo, pois o sistema de saúde está estruturado, existem profissionais capacitados e disponibilidade de vacina. Talvez exista multiplicidade de fatores para justificar a queda na cobertura. Um deles pode ser a inexistência da doença no país desde 1989, quando foi registrado o último caso, na Paraíba. A OMS (Organização Mundial de Saúde) recomenda o patamar de 95% de vacinação das crianças que tenham até seis anos de idade.
Há muito, algumas áreas apresentam baixo desempenho, com apenas 40% ou menos de presença das crianças nos postos de saúde nos dias de vacinação. O vírus selvagem continua presente em três países: Paquistão, Afeganistão e Nigéria. Embora com poucos casos atualmente, ainda representam perigo real.
Rotary Club Boa Vista-Caçari - Luta constante no combate à poliomielite (Foto: Rotary Club Boa Vista-Caçari)
Entenda o processo
O médico brasileiro Marcelo Haick desenvolve atividades, em nome do Rotary International, junto ao governo brasileiro e agências, no trabalho de combate à poliomielite. O Rotary faz parte da GPEI (Iniciativa de Erradicação Global da Poliomielite), grupo formado pela OMS, Unicef (órgão da ONU na área da Educação), CDC Atlanta (órgão de prevenção e controle de doenças dos Estados Unidos) e Fundação Bill e Melinda Gates. Ele explicou, ao Roraima Agora, o caso do ponto de vista técnico.
Roraima Agora – O que causou o caso de pólio na Venezuela?
Marcelo Haick – Trata-se provavelmente de uma região inóspita e com taxas de cobertura vacinal provavelmente baixas, propicia a poliomielite derivada da vacina. Se a criança infectada tivesse sido vacinada, certamente estaria imune ao vírus.
RA – Houve queda na quantidade de crianças vacinadas no continente?
MH – No caso brasileiro, somos exemplo de estrutura nas campanhas nacionais de imunização. As autoridades sanitárias oferecem todas as condições ao público. Sempre tivemos percentual elevado na cobertura vacinal.
RA – O que é o vírus derivado da vacina?
MH – A vacina oral é feita com o vírus selvagem atenuado. O vírus é metabolizado no sistema digestivo vindo a ser excretado com potencial de ser transmitido ao ambiente. Em áreas de baixa imunidade e condições de higiene precárias o vírus expelido pode afetar a criança que recebeu a vacina ou crianças na comunidade.
RA – Esse tipo de vírus pode se espalhar por outras regiões?
MH – A tendência é que o vírus exposto ao ambiente, permanece restrito à referida comunidade.
RA – A única forma de evitar o vírus é através da vacina?
MH – Sim. A vacina garante a imunidade da criança.
Rotary Club Boa Vista-Caçari - Ivete Bragato voluntaria em campanha de vacinação (Foto: Rotary Club Boa Vista-Caçari)
Vacinar é preciso
Só a vacinação em massa evita a contaminação pelo vírus da poliomielite. Os rotarianos do mundo inteiro fazem coro aos cientistas desde 1985, quando O Rotary International aceitou o desafio feito pela OMS de garantir recursos no patamar de 120 milhões de dólares para reduzir os então 350 mil casos anuais registrados no mundo inteiro à época.
Hoje, 33 anos depois, com mais de um bilhão de dólares investidos nas campanhas, mais a participação dos mais de 1,2 milhão de rotarianos como mão de obra, temos casos isolados na África (Nigéria) e Ásia (Paquistão e Afeganistão). O segredo do sucesso? Vacinação em massa.
A presidente do Rotary Club de Boa Vista-Caçari, Ivete Bragato, reforça o apelo. “Insistimos na necessidade de comparecimento aos postos de vacinação, no período de 6 a 24 de agosto”, alerta a dirigente. “Pais ou responsáveis pelas crianças público-alvo das campanhas têm total responsabilidade pela integridade dessas crianças. Afinal, são vulneráveis, sem o poder de decidir sobre a própria vida”, reforçou Ivete.