Assim, por toda a década de 1980, José Barros anunciava o programa líder no horário pelas ondas da 93.3 – Rádio Equatorial, a primeira emissora FM instalada em Roraima. A abertura era a música Piano. Das 21h às 24h, Zezinho lia poesias, atendia pedidos de ouvintes, caprichava nas músicas românticas, em tempos de tecnologia zero em matéria de internet.
Com voz profunda e suave, o locutor sensação da noite boa-vistense embalava namoros, ajudava desiludidos a curtir o baixo astral, promovia reencontros ao som de Roberto Carlos, Moacir Franco (amigo do peito), José Augusto e outros do mesmo estilo.
Dono de invejável discoteca, tratava os LPs com o maior carinho do mundo. Tirava as manhãs de sábado para lavá-los com sabão neutro. Só uns poucos podiam manusear os discos na emissora. Os operadores de som Djavan Esbell, Adir Agran, Miguel, Jeremias Nascimento em início de carreira, já sabiam o tamanho da encrenca se um disco aparecesse arranhado.
Zezinho recebia artistas no estúdio, onde os entrevistava. Muitas vezes os surpreendia com discos raros. Márcio Greick, ídolo da Jovem Guarda, ficou espantado ao ver o primeiro LP gravado por ele nas mãos do locutor. “Nem eu tenho esse LP, cara!”, disse o cantor. O disco parecia saído da loja.
Bom mesmo eram as propagandas. Quando batia aquela fome, ele mandava o recado: “A Pizzaria La Mama tem as melhores pizzas de Roraima”. A turma da massa logo providenciava a iguaria italiana, entregue, em pouco tempo, no estúdio. Quentinha. Era impossível emagrecer.
Ao encontrar artistas no Rio de Janeiro, logo vinha a pergunta: “Como vai o José Barros?” Ficava amigo de quem o visitava. Recebia com generosidade. No final da década, teve o programa retirado do ar sob a promessa de voltar quando o ajuste da nova grade estivesse pronto. Nunca mais voltou. Deixou a marca de uma época, quando a música e a poesia, juntas, faziam melhor as noites roraimenses.