É dezembro! É Natal! É ano novo! Não sei o que é mais importante: a comemoração do nascimento de Cristo (oxalá!) ou o bom período das vendas e do consumo excessivo de nossas futilidades e solidão?
Tenho uma amiga que diz que sou pessimista quando escrevo, acho que não é bem assim, também tenho meus dias de razoável felicidade. Aí, meu editor me pediu uma crônica de Natal. Então vamos lá: dingobel, dingobel...
Dezembro dá a impressão que só começa, tem um fluxo próprio e indeterminado de tempo-espaço. Os dias passam num ritmo singular, alegre e descontraído. Nem percebemos que tudo é uma ilusão atemporal criada por nós mesmos. O que quero dizer é que, no fundo, sabemos que depois dos dias 25 e 31, com todas as festas, voltaremos à cíclica verdade da vida, que nada mais é o mesmo do mesmo do mesmo... A eterna e frustrante repetição desta história tão conhecida por todos. Nada vai mudar! Nada mudará! Nossos planos ficarão pelo meio do caminho: não vamos emagrecer; não vamos conseguir economizar; continuaremos no mesmo emprego medíocre e chato. Ficaremos, sim, mais velhos e desencantados.
Mas hoje não! Hoje eu estou relativamente bem! E só para contrariar, vou confessar que gosto de dezembro, que, para mim, é o melhor mês do ano. Gosto muito das festas, das comemorações, das confraternizações, das happy hours, dos encontros casuais nos botecos da cidade. Dezembro, enfim, é tudo de bom. Às vezes eu me deixo levar (melhor ainda, me deixo acreditar) por tudo isso. Por essa teia de ilusões em que estou desde que nasci. Assim como a ignorância é uma benção, a vida é uma mentira boa de se viver!
Mas e o tal espírito de Natal? Por onde anda? Sei que é uma pergunta retórica, mas, como sou do contra, continuarei minha indagação: e o Natal? Já compramos os presentes, enviamos os cartões, as mensagens de felicitações, de agradecimentos, enchemos as caixas de entradas dos e-mails, dos Faces, dos WhatsApps de nossos amigos e conhecidos... Penso que isso seja mais uma forma de sermos lembrados pelos outros do que os outros acharem que foram lembrados por nós. Até dos parentes distantes e esquecidos nos lembramos...
Acho que dezembro é o mês em que, de alguma forma, procuramos nos redimir de tudo isso, de todas essas coisas que nos incutiram para acreditarmos que é pecado. O ápice do mês é o Natal! Sua ceia! Todos ao redor de uma mesa com pratos e talhares só usados em datas especiais; com todas aquelas comidas raras, doces, guloseimas, bebidas, sorrisos, decorações, luzes coloridas, pisca-piscas, falsos pés de pinheiro...
Enchemos a pança, nos fartamos de tudo aquilo e, já na madrugada, o sorriso não tem mais graça - é um triste fim de uma noite alegre de um menino que nasceu num estábulo numa noite fria e distante. Feliz Natal!