By Aroldo Pinheiro on Segunda, 19 Fevereiro 2018
Category: Crônica do Aroldo

OVNI de água doce

No sábado de carnaval, acordo com telefonema. Não vou citar o nome de quem me ligou para não ter problema com a Justiça. O que esse arquiteto, nascido no Piauí, formado em João Pessoa, morador em Roraima há muitos anos queria falar comigo? Sei que ele está comemorando um ano de sobrevida com coração novo e turbinado. Resolvo atender:

- Bom dia, cara...

- Aroldo, tu gostas de disco voador?

Que diabo é isso? Pegadinha? Convite para sair fantasiado em algum bloco carnavalesco? Alguma notícia sobre OVNI (Objeto voador não identificado) para meu jornaleco? Arrisquei:

- Não tenho nada contra. Sobre o assunto,muita curiosidade...

- É que vai ter um aqui em casa ao meio-dia e meia. Convidei só os amigos queridos e mais chegados...

Agora deu. Aterrissagem de disco voador com hora marcada? Com comissão de recepção? Não sabia que meu amigo era chegado a essas coisas meio sobrenaturais. Aquiesci:

- Tá bom. Posso levar meu fotógrafo junto?

- Não. Sem câmeras. Sem registro.

Pensei: "Puxa, tenho um furo à mão e não posso registrar?" Antes que eu me fizesse mais alguma pergunta, meu interlocutor acrescentou:

- E não precisa trazer cerveja. O congelador está atopetado de garrafas vestidas de noiva.

Pirei. Vão receber ETs com bebida? Que conceito os extra terrenos vão levar sobre terráqueos? Para ter certeza do que estávamos falando, resolvi mostrar minha ignorância sobre o assunto.

- Cara, num tou intendeindo nada...

Ele riu e disparou:

- Porra, falar cifrado com quem não entende de cifras é foda. Tou falando de tartaruga, cara. Quelônio!!! Tartarugada com sarapatel, batidinho, farofa de casco com farinha do Uarini e molho com pimenta olho de peixe... – Acrescentou: "E se algum homem da lei estiver gravando esse telefonema, vai todo mundo preso".

Rimos muito. O almoço estava delicioso. Bom reencontrar amigos em torno de um crime tão revigorante.

Em tempo: Esta é uma história de pura ficção. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é mera coincidência. E ocorreu em Lethem, na Guiana – onde pode-se comer tartarugas à vontade.