E o novo governador chegou ao, ainda, Território Federal de Roraima. Como de praxe, prefeito e boa parte de auxiliares vieram na bagagem do chefe do Executivo. Homem de visão, vendo a possibilidade de fazer-se politicamente em terras macuxis, o coronel determinou que o novo administrador da capital contratasse valores locais para auxiliá-lo.
Depois de sondagens, o prefeito contratou, entre outros nativos, Romualdo Pereira para a Comissão Permanente de Licitação e a esposa deste para a Tesouraria. O casal viu ali a chance de ganhar dinheiro fácil e fazer o pé de meia. Ansiosos por especializar-se na arte de roubar, como ratos, viam, na verdade, a possibilidade de encher muitos meiões com dinheiro tomado de fornecedores da prefeitura.
Na maior cara de pau, Romualdo cobrava comissão de quem fornecia para a prefeiturae Edinete achacava esses mesmos fornecedores na hora de fazer pagamentos.
Ao final do primeiro ano em cargos chave da administração, Romualdo e Edinete compraram enorme terreno em área nobre e deram início à construção de mansão com qualidade e toques de luxo que só os mais abastados possuíam na cidade.
No segundo ano, em dezembro, o casal resolveu, aproveitando o aniversário de Romualdo,inaugurar a bela e luxuosa mansão. A alta sociedade local foi convidada para o regabofe. Governado, prefeito e todos os seus secretários também.
Com música ao vivo, impecável serviço de bufê, bebidas importadas rolando solta, os convivas se divertiam como nunca. O prefeito, ´serio, encafifado, prestava atenção naquilo tudo; em determinado momento, segurou no braço de Romualdo, puxou-o para um cantinho, e assuntou:
- Meu filho, nós tomamos posse juntos, meu salário é duas vezes o que você ganha, tenho mordomias que você não tem: que tipo de aplicação ou que mágica você faz para seu dinheiro render tanto? Enquanto você construiu essa mansão, tudo que eu consegui foi dar entrada num apartamentozinho de três quartos em Niterói.