By Aroldo Pinheiro on Terça, 06 Novembro 2018
Category: Crônica do Aroldo

Na paz do Senhor, graças a Deus

Marieta entrou no banco. Trajava bermuda quadriculada, blusa estampada com flores multicoloridas e surradas sandálias de dedo, a gorda, com quartos muito largos, peitos enormes, que fazem inveja a muitas vacas holandesas, cabelos desgrenhados, retirou senha no equipamento eletrônico e, com dificuldade, por causa dos assentos muito estreitos, sentou-se para esperar a sua vez. 

Gisélia, mirradinha, entrou na agência, retirou senha e, ao ver a conhecida, balançou a cabeça e sentou-se a seu lado.

- Tudo bem, maninha?

- Menina, eu agora estou muito bem. – E sem deixar a amiga falar, Marieta acrescentou: "Estou frequentando a Igreja Paliativa de Jesus Cristo e, lá, encontrei a paz. Graças ao pastor Ezequiel, deixei de ser aquela mulher pessimista e intolerante que eu era... Aprendi a aceitar os desígnios do Senhor e dar Graças a Deus pelas coisas boas e coisas ruins que me acontecem..."

O toc-toc de saltos contra o piso anunciaram uma moça bonita, com brilhantes cabelos negros longos, bem cuidados, dentro de insinuante peça única, branca, colada ao corpo. A morena chamava a atenção de todos que ali se encontravam. Aquela fada de revistas masculinas encostou-se na coluna próxima à bateria de caixas e dedicou-se a ver mensagens e posts no celular de última geração. 

Marieta cutucou Gisélia com o cotovelo e, baixinho, determinou: "Essa quenga não vai ser atendida na minha frente não". 


Gisélia fez bico de desdém, sacudiu a cabeça e acrescentou: "Se ela tem alguma deficiência, deve ser falta de vergonha. Como é que ela sai de casa com uma roupa escandalosa como essa? A xana parece que tá querendo pular pra fora" 

O painel eletrônico anunciou: "Senha 107; caixa 3". A morenaça olhou em volta, retirou o apoio do corpo da perna esquerda para a perna direita, conferiu o celular, sorriu e abandonou-se nas mensagens. Marieta, apreensiva, murmurou um "Rum" desafiador. 

Ao passar pelo local, o gerente da agência abriu os braços e exclamou: "Martinha!!! Que prazer. Venha à minha mesa para um cafezinho!?" O bancário e aquele pedaço de mau caminho seguiram para o birô da direção do banco.

Morrendo de ódio, Marieta falou para que todos ouvissem: "Só vai ser atendida antes de mim porque eu não estou vendo". E voltando-se para Gisélia: "Não sou de desejar o mal pra ninguém não, mas essa vaca vai pegar uma doença que vai deixar ela seca e acabada só pra deixar de ser metida a besta". 

E, não satisfeita, arrematou: "E tenho fé em Deus que esse gerentezinho de merda também vai ter o que o Diabo tem reservado pra ele..."