No início da década de 1960, depois de acirrada disputa eleitoral, a chapa apoiada pelo governo lograra preencher a única vaga na Câmara dos Deputados destinada ao Território Federal de Roraima.
O deputado era homem culto, inteligente, falava inglês fluentemente, conhecia alguns países, tinha muitas posses; o suplente, semi-analfabeto, era simples pecuarista - desses que começaram sendo vaqueiro de algum grande produtor e, com o sistema de ganhar uma cabeça de rês a cada quatro nascidas, estabelecera seu rancho e se tornara líder rural.
Com a "Redentora", de 31 de março de 1964, o deputado, que alimentava simpatia pelo regime imposto por Fidel Castro, em Cuba, foi cassado pelos militares. O suplente assumiu a vaga.
Sentindo-se importante, o peão que, agora, havia-se transformado em autoridade, viu-se obrigado a trocar suas calças e camisas de brim desbotado e puído por ternos de gabardine. A patroa caprichou em vestidos feitos com seda oriental trazida da então Guiana Inglesa, rendas do Ceará, fustões, tafetás, essas modas.
Depois da posse e de cometer algumas gafes em Brasília, o casal voltava, pela primeira vez, para a pacata Boa Vista. Naquele tempo, os DC3s da Cruzeiro do Sul pernoitavam em Manaus para descansar tripulação, esfriar motores e seguir viagem no dia seguinte.
Hospedados no Hotel Amazonas, deputado e esposa se encantavam com tanto luxo e mordomia.
Antes de entrar no Aero-Willys da Representação do Território Federal de Roraima que levaria o casal até o Aeroporto da Ponta Pelada, a esposa do parlamentar resolveu visitar lojinha de artesanato que vira na frente do imponente e famoso hotel. Entrou e encantou-se com uma bolsa que a atraíra no mostruário.
Ao ver a aproximação do jovem e bem vestido atendente, madame, para mostrar que era gente bem, resolveu caprichar no vernáculo, pegou a bolsa e perguntou:
- Moço, essa bolsa é de couro de crocodalho?
Rindo, o vendedor respondeu-lhe:

- Não. É de couro de jacaralho.