Nascida no alto Cotingo, norte do Estado de Roraima, Zaide foi adotada por Francisco e Odineia Laudelino. Teve vida semelhante a de qualquer boa-vistense dos anos 1960, 1970, 1980: primário no Colégio São José; ginásio no Euclides da Cunha...
Irrequieta, aos 24 anos, em 1980, decidiu mudar-se para Manaus onde daria seguimento aos estudos, interrompidos pelo nascimento de dois filhos, Leonardo e Lúcio, que ficaram em Boa Vista com os avós.
No ano seguinte, enquanto se adaptava à nova vida, Zaide reencontrou Yoshiya Bakoshi, japonês que conhecera anos antes e que trabalhava em empresa instalada na Zona Franca. Apaixonados, resolveram casar-se, apesar de colegas do nipônico terem se posicionado contra.
Os Bakoshis desfrutavam confortável vida de classe média na capital manauara: Yoshiya como diretor comercial e Zaide administrando sua loja de variedades no Distrito Industrial, quando a empresa do marido entrou em concordata e teve que demitir colaboradores.
As coisas foram ficando difíceis para o casal quando a caboquinha roraimense de olhos puxados como os orientais, então com quatro filhos, propôs que saíssem em busca de dias melhores.
Em dezembro de 1997, os Bakoshis mudaram-se para Hokkaido, terra natal de Yoshiya – a ilha mais fria da Terra do Sol Nascente.
Mundo novo, vida nova
A família foi muito bem recebida pelos pais de Yoshiya. Para os brasileiros tudo era novidade, tudo era fascinante, mas eles precisavam ganhar dinheiro, precisavam dar rumo à suas próprias vidas. Mudaram-se para Gifu - próximo a Nagoya -, onde há grande concentração de brasucas.
Com bom currículo, Yoshiya não teve dificuldade para conseguir emprego. Alojados em confortável apartamento e, apesar das dificuldades com o idioma, Zaide e os filhos se adaptavam ao modus vivendi nipônico.
Zaide não é de ficar acomodada. Depois de trabalhar como operária durante algum tempo, resolveu buscar uma profissão que lhe desse autonomia e fez cursos de Estética Holística e Massoterapia.
Tendo os aromas como verdadeira paixão, de vez em quando, a menina do alto Cotingo, monta turmas e passa para seus alunos a arte de fabricar sabonetes artesanais e de massagear.
No ano passado, para preencher o tempo, arranjou emprego numa fábrica de auto peças, onde trabalha quatro horas por dia durante quatro dias da semana.
Mas nem tudo são flores. Como gaijins que são, os Bakoshis sentem discriminação dos japoneses nativos. Zaide diz tirar vantagem disso, pois essa discriminação faz com que eles procurem ter vida exemplar e respeitem o jeito nipônico de ser. Lá, aprende-se a ter respeito pelo ser humano, ter paciência, obedecer regras.
Zaide está entre os pouquíssimos roraimenses que saíram rumo ao Japão e, com certeza, é, dos macuxis, quem vive por lá há mais tempo
À reportagem do Roraima Agora, a senhora Bakoshi disse que planeja visitar sua terra natal no próximo ano: “Quero sentar e bater papo descontraído com pessoas interessantes, quero comer comidas que só existem em minha terra, quero, se der tempo, buscar minhas raízes”, conclui.
Com a mãe, Odineia, e os filhos, antes de partir para o Japão
Zaide, entre as filhas: Erika e Karen
Lúcio, filho mais novo, vive em Maringá (PR), com a esposa
Leonard, filho mais velho, solteirão, vive com os pais em Gifu