Quatro anos depois de levantada a suspeita, pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) confirmaram a possibilidade de contrair doença de Chagas por meio de consumo de açaí.
Após ver registrados 430 casos da doença no Pará, o Ministério da Saúde pediu pesquisas sobre o assunto. "Entre os pacientes, o que havia em comum era o fato de as pessoas terem ingerido açaí em determinados pontos de venda", lembra o biólogo Luiz Augusto Corrêa Passos, um dos autores do estudo. "Já havia a associação da fruta à doença, mas os dados eram apenas epidemiológicos, sem comprovação científica", diz.
O açaí faz parte da base alimentar dos habitantes do Pará. Muito abundante na região, o fruto é encontrado em feiras e mercados em estado natural, sem passar por processos que o conservem para venda, como feito em outras regiões do Brasil e no exterior.
O mal de Chagas é uma doença infecciosa causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi, que pode ser adquirida por meio do contato com as fezes do barbeiro, seja pela pele, seja via oral. Entre os principais sintomas estão febre, inchaço e problemas cardíacos, que, em estado mais avançado, levam o paciente à morte.
Testes publicados na revista Advances in Food and Nutrition Research, mostraram que o protozoário causador da doença de Chagas é capaz de sobreviver na polpa da fruta tanto em temperatura ambiente, como a 4°C, temperatura média de uma geladeira, e até a -20°C, no açaí congelado.
Higiene
O biólogo ressalva que não há motivos para descartar o consumo de açaí. "A contaminação ocorre quando há falta de higiene", resume. Ele explica ainda que o açaí em geral é contaminado quando um barbeiro, inseto vetor da doença, ou as fezes dele se misturam à polpa durante o processamento.
(Fonte: www.fiocruz.br/portalchagas)