By Plinio Vicente on Terça, 23 Fevereiro 2016
Category: Crônica do Aroldo

O tangedor de caranguejos

Wagner Paiva da Silva - para os íntimos, para os colegas de farra, para as
putas: Vaguinho. O caboco sempre foi bom de farra e adorava cabarés. Casou-se com Janaína, mas não se aprumou. Aproveitava todas as vantagens da vida conjugal: comidinha caseira, roupinha lavada e engomada, mulher cheirosa a esperar para carinho e vadiagem, etc., mas vivia o resto do tempo como se solteiro fosse.
A esposa acostum

ou-se àquele ritmo. O amor era tanto que, quando Vaguinho sumia por três, quatro dias, Janaína se preocupava se ele estava se alimentando direito, com sua saúde ou que o safado se envolvesse em algum acidente – ou incidente piriquital.
Janaína engravidou. Passados cinco, seis, sete meses, a barriga crescendo e Vaguinho farreando. No nono mês de gravidez, fevereiro, ela convenceu o marido a passar mais tempo em casa, pois podia surgir alguma emergência e não havia a quem recorrer. Vaguinho, a contragosto, aquiesceu e passou a dedicar dias inteiros à tediosa janela do sobrado tomando cerveja e vendo o movimento das ruas.
Mas chegou o carnaval...
Na sexta-feira gorda, com a folia comendo no centro, Vaguinho colocou bermuda encarnada, surrada camiseta amarela, sandália de dedo e, sem encarar a patroa, anunciou: “Vou comprar pão!”
Janaína, inocentemente - ou espertamente -, pediu-lhe que passasse na casa de Dona Coló, sua madrinha, e trouxesse umas cocadas que esta lhe havia prometido. Vaguinho dobrou a esquina e desapareceu.
Passados sábado, domingo, segunda, terça-feira e nenhuma notícia do futuro papai. Nem dos pães. Nem das cocadas.
Janaína já tinha escarafunchado bares, hospitais, delegacias de polícia e puteiros à procura do irresponsável e nada. Ninguém sabia do paradeiro de Vaguinho.
Na quarta-feira-de-cinzas, enxugando lágrimas com o torso da mão, da janela do sobrado, Janaína viu um vulto surgir na esquina. Apurou os olhos e, com o coração palpitando, identificou Vaguinho só de bermuda, pés descalços e um murcho baguete debaixo do sovado esquerdo. À frente do vagabundo, espalhados pela rua, dez enormes caranguejos vivos. Nosso herói, trupicando de um lado para outro, tentava ajuntar, aos gritos de “xô!”, “mais pra cá!”, “mais pra lá!”, num só grupo os crustáceos. Chegando mais perto da janela onde estava a patroa, ele, com dificuldade para pronunciar palavras por causa do álcool na língua, balbuciou:
- Mozinho, pense numa coisa difícil... Comprei esses caranguejos e venho tentando tanger os bichinhos pra casa desde sexta-feira. Bote água pra ferver, pois eu quero comer esses guaiamuns no toque toque! Wagner Paiva da Silva - para os íntimos, para os colegas de farra, para as
putas: Vaguinho. O caboco sempre foi bom de farra e adorava cabarés. Casou-se com Janaína, mas não se aprumou. Aproveitava todas as vantagens da vida conjugal: comidinha caseira, roupinha lavada e engomada, mulher cheirosa a esperar para carinho e vadiagem, etc., mas vivia o resto do tempo como se solteiro fosse.
A esposa acostumou-se àquele ritmo. O amor era tanto que, quando Vaguinho sumia por três, quatro dias, Janaína se preocupava se ele estava se alimentando direito, com sua saúde ou que o safado se envolvesse em algum acidente – ou incidente piriquital.
Janaína engravidou. Passados cinco, seis, sete meses, a barriga crescendo e Vaguinho farreando. No nono mês de gravidez, fevereiro, ela convenceu o marido a passar mais tempo em casa, pois podia surgir alguma emergência e não havia a quem recorrer. Vaguinho, a contragosto, aquiesceu e passou a dedicar dias inteiros à tediosa janela do sobrado tomando cerveja e vendo o movimento das ruas.
Mas chegou o carnaval...
Na sexta-feira gorda, com a folia comendo no centro, Vaguinho colocou bermuda encarnada, surrada camiseta amarela, sandália de dedo e, sem encarar a patroa, anunciou: “Vou comprar pão!”
Janaína, inocentemente - ou espertamente -, pediu-lhe que passasse na casa de Dona Coló, sua madrinha, e trouxesse umas cocadas que esta lhe havia prometido. Vaguinho dobrou a esquina e desapareceu.
Passados sábado, domingo, segunda, terça-feira e nenhuma notícia do futuro papai. Nem dos pães. Nem das cocadas.
Janaína já tinha escarafunchado bares, hospitais, delegacias de polícia e puteiros à procura do irresponsável e nada. Ninguém sabia do paradeiro de Vaguinho.
Na quarta-feira-de-cinzas, enxugando lágrimas com o torso da mão, da janela do sobrado, Janaína viu um vulto surgir na esquina. Apurou os olhos e, com o coração palpitando, identificou Vaguinho só de bermuda, pés descalços e um murcho baguete debaixo do sovado esquerdo. À frente do vagabundo, espalhados pela rua, dez enormes caranguejos vivos. Nosso herói, trupicando de um lado para outro, tentava ajuntar, aos gritos de “xô!”, “mais pra cá!”, “mais pra lá!”, num só grupo os crustáceos. Chegando mais perto da janela onde estava a patroa, ele, com dificuldade para pronunciar palavras por causa do álcool na língua, balbuciou:
- Mozinho, pense numa coisa difícil... Comprei esses caranguejos e venho tentando tanger os bichinhos pra casa desde sexta-feira. Bote água pra ferver, pois eu quero comer esses guaiamuns no toque toque!