Querido Diário,

Não sei onde estou arranjando coragem para o recomeço. As zamigas têm me dado a maior força.

Com exceção de dois ou três vestidinhos, doei todas os vestidos do tempo do finado e comprei umas roupinhas mais modernas e ousadas. Cortei os cabelos acima dos ombros e, neles, dei um tom aloirado.

Afora minha sogra (pois sogra é pra sempre), a moçada se mostra satisfeita com as mudanças.

Fiquei sabendo que, no trabalho, colegas fizeram uma espécie de bolão tentando acertar quando – e com quem – retomarei atividades sexuais. Já recusei convites para sair, pois sei que não existe jantar de graça.

No sábado de aleluia fui ao Pit Stop com uma turma de amigas solteiras, divorciadas e viúvas. Não me senti muito bem, pois nossas caras pareciam ter placas dizendo que "as coroas saíram pra caçar".

Bebemos muito, cantamos, dançamos, nos divertimos. Na volta, ao deixar-me em casa, uma prima do meu finado marido insinuou-se querendo ficar comigo. Disse que não é lésbica militante e que "só estava empenhada em me treinar e deixar-me pronta para as novidades que deixei de conhecer durante os 40 anos de casada".

Conversa pra embalar elefante. Não caí na lábia da sapata. Vou com calma, pois sei que o que é bom pra mim está guardado.