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Ulisses Moroni - Colunistas

    Crônica do Moroni

    Ulisses Moroni Júnior é promotor de justiça no Estado de Roraima há 18 anos. Nas horas que sobram, pratica a literatura brasileira

    Ulisses Moroni

    Não coloque a mãe no meio!

    Fortes lembrança de minha infância são as caronas nos primeiros anos escolares. Às vezes ia com a mãe de um colega. Outros colegas iam juntos. Era revezamento: às vezes, ela levava; outras, a minha mãe e as dos demais faziam a função. 

    Não sabíamos o nome da mãe de nosso amiguinho. Pelo seu jeito de ser e a forma como tratava o filho, nos referíamos a ela como A FADA. A maneira de falar com o filho, os olhares, os abraços eram coisas de rainha para um príncipe.

    O pai, ao contrário, era a ignorância total. Não deixava o colega jogar futebol, assistir a desenhos animados, entre outras barbaridades. Escondida do pai, era a mãe quem dava esses prazeres ao menino.

    Mudei-me para nova escola. Aquele meu colega também foi estudar lá. Morando em novo endereço, não havia mais "a fada" com ele! Os pais tinham se separado e ele passou a morar na casa da avó paterna. Sei que o pai ficou com a guarda do menino. Como eu era criança, não entendia muito destes assuntos.

    Aquela situação o afetou bastante. Ele tornou-se excessivamente sensível e sem auto-confiança. Os maldosos o chamavam 'Pateta-chorão'.

    Uma vez, estávamos num campo de futebol de várzea e ele chegou. Ali estavam uns elementos que gostavam de importunar os outros. Juntos, se julgavam os donos do pedaço. Não é que, sem qualquer motivo, disseram que não iam deixar nosso amigo jogar. Ele, chorando, cabeça baixa, virou-se para ir embora. Aqueles idiotas ainda tiveram a maldade de falar que "filho-de-puta não joga aqui nunca mais"!

    Num gesto de surpresa, jamais esqueci, o menino virou-se para o campo e gritou: "Não falem da minha mãe. Vocês nem conhecem ela! Mãe ruim deve ser a de vocês, que não os ensinou a respeitar as pessoas. Vou resolver isto agora!"

    Ato contínuo, pegou um pedaço de bambu que estava por ali e partiu para cima dos agressores, batendo onde e como pôde. Cena digna de filmes de kung-fu. Fez todos correrem.

    Se eu, que somente vi, nunca esqueci, imagine os valentões que sentiram "na pele" a "violenta-emoção" daquele garoto que eles chamavam Pateta-Chorão!

    Com a cena, descobri a força do sentimento materno para uma pessoa e a importância do "NÃO COLOQUE A MÃE NO MEIO".

    A avó dele faleceu e, com o o pai, ele se mudou dali. 

    Gostaria de saber como ele está hoje e o que realmente ocorreu com sua mãe. Tomara que eles, mãe e filho, tenham se reencontrado. 

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    Ulisses Moroni

    Uma crônica com espírito natalino

    Quando eu era criança, antes do Natal, os lixeiros deixavam um envelope nas casas e pediam uma gorjeta natalina. Logo após o dia 25, passavam recolhendo os envelopes.

    Aqui em Boa Vista não me lembro de ter visto esses envelopes.

    Meu filho pediu, de Natal, um presente padrão nestes tempos: um novo celular.

    Fiz contas e foi possível separar o valor para comprar.

    No dia 24, saquei dinheiro e dirigi-me à loja. Já estava fechada.

    Eu teria de comprar o celular após o Natal.

    Coloquei a grana no bolso para comprar o presente depois.

    No dia de Natal, acordei-me e vesti-me com a mesma calça. Ainda era manhã, bem cedo. Fui ajeitar os sacos de lixo amontoados no quintal e, de repente, escuto o caminhão de lixo passando. Corri lá com os sacos. Fiquei observando o caminhão de lixo se aproximar.

    Quatro garis pegavam os sacos e jogavam no veículo coletor. Naquele dia, devido às ceias, havia muito mais lixo. Naquela manhã, os lixeiros faziam algo diferente: batiam nas portas e pediam "caixinha". A tradicional contribuição de natal!

    Em algumas casas ninguém atendeu. Noutras, saía alguém, que balançava a cabeça lateralmente, indicando negar a gorjeta.

    De minha porta, pegaram os cerca de dez sacos de lixo que ali havia. Um dos lixeiros deles veio até mim e pediu a gorjeta, já meio que esperando um não.

    Os garis queriam fazer um almoço diferente em suas casas, no dia de Natal. Tanto que resolveram fazer a coleta bem cedo. O que eu faria?

    Pago a contribuição municipal para custear a coleta de lixo e outros tributos. Além do mais, não existe obrigação de pagar gorjeta. Trata-se de uma liberalidade. Uma das formas de exercermos nosso livre arbítrio. E quanto eu daria de gorjeta? Teria que decidir rápido.

    Com o lixeiro à minha frente, aguardando minha resposta, olhei minha calçada: limpinha... Há alguns minutos havia muitos sacos de lixo ali...

    Manhã de Natal bem cedo, lixeiros trabalhando... Pensei: "Meu filho já tem um celular... E funciona bem. Ele pode esperar mais um tempo por aparelho novo". Meti a mão no bolso e retirei o valor que estava lá para comprar o celular para meu filho - nem sei quanto
    exatamente -, peguei e entreguei ao lixeiro. Ele sorriu um sorriso de orelha a orelha, apertou minha mão e disse-me um sincero muito obrigado.

    Esperei para vê-lo entregando o valor a seus colegas. Um pouco distante, pude ver os sorrisos nas faces dos outros quatro garis. 

    Esse fato foi meu presente de Natal. Como fiquei feliz! Essa alegria em meu coração me servirá de impulso para conquistar muitas vezes a gorjeta dada em 2018. 

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    Aprendendo com bananas

    Vou completar 50 anos de idade. Há pouco menos tempo disso, comendo bananas. Desde muito pequeno, sou comedor de bananas. Uma das primeiras compras que fiz foram bananas. Não saio de supermercado sem trazer uma quantidade desse fruto. 

    Já comprei bananas por unidade, por penca, por dúzia. Agora, por quilo. A penca de bananas é um nome há muito conhecido por mim: TUDO IGUAL , COMO NUMA PENCA DE BANANAS! Sinônimo de barato: A PREÇO DE BANANA! 

    Há algum tempo, fui comprar bananas em um comércio perto de casa. Algumas estavam penduradas na porta. O vendedor perguntou quantas palmas eu queria. Mas disse que também vendia o cacho. Não entendi a conversa, por incrível que pareça. Pedi meio quilo. O comerciante disse que não tinha balança: só vendia por palma e por cacho.

    Senti que ele falava algo óbvio, mas eu desconhecia o real significado. Humildade sempre é bom... Pedi-lhe para me explicar o que são exatamente CACHO e PALMA. Sua expressão foi de espanto, tipo eu estar brincando com tal pergunta. Para ele podia ser óbvio; para mim, não. O quitandeiro foi profissional - e paciente – na explicação. 

    A palma é aquilo que eu chamo penca, parte do cacho, ou sub-cacho.. Já o cacho é aquela parte que sai do caule da bananeira. Completo, contém umas cinco palmas. O cacho tinha um preço maior que a palma, claro. Utilizando vários cachos de bananas ali pendurados, ele usou um 'método' audiovisual de ensino. 

    Falou-me ainda que aquelas bananas não eram do sul de Roraima, produzidas para abastecer Manaus. Suas bananas são de Boa Vista mesmo. E, como a procura é grande, há muitos sítios com 80, 100 bananeiras para renda extra. Esclareceu que comprava bananas numa feira que, por sua vez, é abastecida por atravessadores – que negociam com os produtores. Tive meu segundo nascimento!

    Eu já vi muitos pés de banana, mas não imaginava como as frutas saem de lá para venda. Já encostei a mão em cachos, mas sem prestar atenção. Achava que ficava um monte de bananas penduradas. Pedi três palmas, e fui-me embora. Fiquei satisfeito: as bananas estavam ótimas! Descobri nova opção de comprar e conheci uma pessoa legal.

    Mas o animador nestas situações é o choque nas minhas verdades absolutas. Ver que nunca concluímos tudo sobre algo. Sempre surge uma nova imagem, no quadro que julgamos pronto. Vivendo, aprendendo e me desembananando.

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    Caquinha do nariz e coceira no saco

    Temos que sempre observar nossas manias e instintos negativos buscando nosso polimento. Nesse contexto, já consigo não atender ao celular dirigindo automóvel, por exemplo. Ficou simples e automático dar seta, parar em local seguro e, ali, atender. Uma quase colisão e uma multa ajudaram nesta minha correção de rumo...

    Já cortei a mania de atender celular e telefone fixo na mesa de trabalho. Também deixei de falar ao celular e usar o computador ao mesmo tempo. Um fato muito me incentivou nesta correção: uma vez, falando ao celular, mandei um e-mail ao destinatário errado e quase me meti numa enorme confusão...

    Outro hábito negativo que, se ainda não 'domestiquei', ao menos estou lidando melhor com ele: tirar caquinha do nariz! Algo que me deixou em pânico. Um cavalheiro como eu jamais poderia fazer essas coisas. Mas, vira e mexe, me pegava na 'limpeza do salão'. Tentava me conter, falava comigo que isso deve ser feito apenas no banheiro. Mas, quando menos esperava, lá ia eu com o hábito pré-histórico.

    Procurei médicos, videntes, macumbeiros, psicólogos, palpiteiros, até um veterinário, e nada de resolver. Colocar o dedo no nariz passou a ser a minha linha divisória entre eu ser um primata ou um homo sapiens. Como eu não consegui me domar, decidi morar numa floresta, junto aos macacos. Concluí que eu não era evoluído.

    Quando eu preparava a viagem só de ida, resolvi fazer uma consulta no 'Google Sabe-Tudo'. E fui procurar no país certo, onde pesquisam sobre tudo: os Estados Unidos. Lá, descobri minha libertação! Eles dizem que o hábito de levar os dedos para limpar o nariz é algo mais instintivo que racional, tal qual respirar, por exemplo. 

    Quer dizer, eu e todo mundo não conseguimos controlar totalmente tal hábito. Com atenção, podemos 'agir' longe do público.

    E vi mais. Nos Estados Unidos eles têm diversas pesquisas sobre caquinha: da costa leste e da oeste, de acordo com a renda do cidadão, pelos esportes que praticam, etc. Eles conhecem as características das caquinhas dos grandes personagens da sua história. Aqui no Brasil, a gente dá risada com uma pesquisa assim, mas lá eles não têm preconceito em estudar. Talvez por isso sejam mais desenvolvidos. Caquinha lá é coisa séria!

    Foi uma revolução em minha vida, voltar a ser um cavalheiro quando eu já me considerava mais primata do que homo-sapiens. Depois disso, já penso em outro aprimoramento radical. Estou vendo a tradução em inglês para "coçar o saco" e ver o que os norte-americanos têm a respeito!

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    Mocinho ou bandido?

    Há vinte anos, fui a Brasília em férias com uns amigos. Primeira vez ali. Fomos de ônibus, desembarcando na rodoviária do Plano Piloto. Logo, vimos a Esplanada dos Ministérios e o Congresso. Foi amor à primeira vista, registro para sempre na memória. Dali em diante, fomos a todos os locais indicados nos guias turísticos.

    Foi a primeira que aluguei um automóvel. Para nossa surpresa, nem saiu caro. Na época, usava-se muito as travas de segurança, que prendiam a direção na embreagem ou freio e, depois, eram trancadas. E neste caso da minha primeira locação, o carro tinha uma destas travas.

    A locadora do veículo nem falou sobre seguro, não se usava isso. O seguro dela foi me atemorizar, dizendo que lá furtavam-se muitos carros. Então, onde eu parava, colocava a trava.

    Fomos a uma casa noturna, próxima do Banco Central. Muito cheio o lugar, tive que estacionar bem distante. Ao final, lá pelas quatro da manhã, fui sozinho buscar o carro para voltar e pegar o pessoal.

    Entrei no veículo e fui soltar a trava de segurança. A Lei de Murphy entrou em ação: mexi a chave de todo jeito e nada de abrir. Naquele tempo não havia celular para chamar por ajuda nestas horas.

    Não é que o pior acontece? Uma pessoa se aproxima! Um homem, de uns vinte anos, nos meus estereótipos aparentava ser um ladrão. Chegou até a porta e perguntou o que aconteceu, eu disse que a trava "travou"! Com um linguajar inconfundível das páginas policiais, disse-me: "Você me ajuda que eu te ajudo".

    Imediatamente aceitei. Levantei-me e saí do carro. Ele sentou e movimentou as mãos na direção da fechadura da trava. Quando fui perguntar o que ele faria, a trava já estava solta nas mãos dele! Ele gastou menos que dez segundos para abrir a geringonça. E sem qualquer ferramenta! Levantou-se e me entregou a trava aberta, sob meu olhar de espanto e satisfação. Dei a ele um trocado, acho que foi justo o valor, ele saiu feliz.

    Fui-me embora pegar o restante do povo. Preocupados e morrendo de raiva de tanto esperar, a turma já pensava em chamar a polícia! Quanto contei o ocorrido, senti que não botaram muita fé na minha história.

    Efetivamente fui-me embora feliz, pois saí ileso de corpo e bolso daquela situação potencialmente problemática. E qual seria a "moral desta história"? Facilmente selecionei três frases, mas até hoje não defini qual especificamente é a ideal: "Deus realmente é onipresente"; ou "A solidariedade aparece de onde menos esperamos"; ou, ainda, "Ninguém melhor que o rato para conhecer os segredos de segurança do gato"! 

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    Bons enganos

    Era mais uma de muitas viagens de avião, tendo eu criado muitas e variadas referências sobre as aeronaves e sua tripulação. Uma característica que se mantém desde que voei pela primeira vez, para mim, é a idade média do jovem pessoal de apoio. Talvez porque este trabalho exige muitas horas fora de casa, além do desgaste físico natural da atividade. Isto não se aplica aos pilotos, que devem ser experientes!

    Pois, naquele voo, fui recebido por uma aeromoça que aparentava mais de 60 anos. Uma 'aerovovó'! Achei-a com olhos cansados. Esticou os braços para ler meu bilhete. Mas não usava óculos.

    Decolamos e ela acabou ficando na minha frente. Involuntariamente passei a observá-la. Em solo, ela usou o telefone celular. Falou com algum telefonema. Foi mais enfática, dizendo que precisava estar junto ao interlocutor, mas não podia, pois tinha que trabalhar ali.

    Passou com o 'carrinho' oferecendo produtos pagos com cartão. Pediu para um colega passar o cartão na maquineta, dizendo que 'não conseguia aprender a usar aquilo!'

    Muitas pessoas na idade dela já estão aposentadas, ou têm um trabalho mais suave. E ela ali 'dando duro', igualmente a outros mais jovens. Fiquei sensibilizado.

    Fui ao banheiro e aproveitei para beber água na sala de apoio. Ali estava aquela senhora. Perguntei qual era o destino final do voo. Disse-me que era Recife, para onde ela já voava há mais de 20 anos!

    Falou que já tinha tempo para se aposentar como tripulante, mas aquele trabalho era 'sua cachaça'. Completou dizendo que tinha uma empresa com os filhos, de fornecimento de alimentos para aeronaves. Mas os filhos não faziam nada sem a opinião dela. Então, quando ela voava como aeromoça, se desligava dos problemas da empresa.

    Sem que eu perguntasse, foi dizendo que não iria usar óculos enquanto enxergasse 'as letrinhas', ainda que esticando os braços. E que detestava mexer com maquinetas de cartão de crédito. Tinha bons funcionários para isso. Ela apenas gostava de ver seu saldo bancário sempre aumentando! Já fazia anos que era tratada como investidora especial, completou.

    Fui conversar com aquela senhora com um tom pedioso, mas retornei um pouco, digamos, humilhado. Será que um dia eu seria um investidor bancário especial, pensei...

    No saldo final, fiquei feliz. Que meus enganos sobre as aparências das pessoas sempre sejam assim. Eu acho que uma pessoa é carente, e ela na verdade se mostra mais que suficiente! 

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    Ulisses Moroni

    O problema estava na cabeça

    Anunciaram-me uma pessoa que desejava reclamar. Tudo normal até aí, a regra era essa. Já o motivo era algo bem diferente: o sujeito queria reclamar de uma loja de motos que, segundo ele, o teria ofendido. Como? Ele foi comprar um capacete, mas disseram que não tinham do tamanho da sua cabeça, sendo recomendado que fizesse um sob encomenda.

    Qualquer pessoa no meu lugar ficaria curioso para ver a pessoa, especificamente sua cabeça. Ao vê-lo, fiz uma análise minuciosa e confesso que senti uma mistura de surpresa e decepção. Sua cabeça era do tamanho da minha! Aliás, sua altura e peso eram bastante similares aos meus. Indaguei-me sobre o que estava acontecendo. Somente ouvindo o reclamante para saber os reais motivos...

    Disse-me que tinha comprado uma moto há uns meses, que foi-lhe entregue com um capacete usado. Numa blitz policial entenderam que o talcapacete tinha defeitos e o apreenderam. Ao comprar um novo, os modelos que encontrava ficavam apertados. Na maior loja da cidade, todos osmodelos que experimentou lhe incomodaram. O gerente sugeriu que ele comprasse um por encomenda na fábrica e, daí, ele se ofendeu e veio fazer a reclamação.

    Como eu já tive moto, senti algo mal-explicado no contexto. Telefonei para a loja e o gerente esclareceu o fato. O capacete que ele usava era danificado, não tinha a espuma protetora interna, apenas a "casca". Ficava mais folgado que um novo, mas não cumpria a função de segurança, tanto que foi apreendido. Mas o consumidor, irritado, não se deixou ouvir.

    Ali comigo ele estava receptivo. Consegui explicar que, no início, um capacete novo dá impressão de apertar a cabeça. Isto justamente por nos proteger. Com o tempo, o equipamento se ajusta ao nosso perfil, da mesma que nos acostumamos ao acessório. Uma questão de insistir. Senti que ele acreditou no que eu disse e retornou àquela mesma loja para negociar. Minutos depois, o gerente me telefonou, dizendo que ele foi lá e comprou um capacete.

    Meses depois, saio de um supermercado e, na rua, indo para o meu carro, uma moto se aproxima. O piloto dá uma acelerada e para. Usava capacete.Achei que fosse um pistoleiro ou assaltante. Ele tira o capacete e coloca novamente na cabeça, várias vezes, e se faz recordar. Disse-me: "Sou aquele cabeção! O senhor tinha razão, era apenas questão de acostumar. Agora uso na cabeça e nem sinto nada." E partiu. Eu nem me lembrava do caso, então recordei. Segui sorrindo, com a grata sensação do dever cumprido, ainda que distante do convencional!

    iAnunciaram-me uma pessoa que desejava reclamar. Tudo normal até aí, a regra era essa. Já o motivo era algo bem diferente: o sujeito queria reclamar de uma loja de motos que, segundo ele, o teria ofendido. Como? Ele foi comprar um capacete, mas disseram que não tinham do tamanho da sua cabeça, sendo recomendado que fizesse um sob encomenda.

    Qualquer pessoa no meu lugar ficaria curioso para ver a pessoa, especificamente sua cabeça. Ao vê-lo, fiz uma análise minuciosa e confesso que senti uma mistura de surpresa e decepção. Sua cabeça era do tamanho da minha! Aliás, sua altura e peso eram bastante similares aos meus. Indaguei-me sobre o que estava acontecendo. Somente ouvindo o reclamante para saber os reais motivos...

    Disse-me que tinha comprado uma moto há uns meses, que foi-lhe entregue com um capacete usado. Numa blitz policial entenderam que o talcapacete tinha defeitos e o apreenderam. Ao comprar um novo, os modelos que encontrava ficavam apertados. Na maior loja da cidade, todos osmodelos que experimentou lhe incomodaram. O gerente sugeriu que ele comprasse um por encomenda na fábrica e, daí, ele se ofendeu e veio fazer a reclamação.

    Como eu já tive moto, senti algo mal-explicado no contexto. Telefonei para a loja e o gerente esclareceu o fato. O capacete que ele usava era danificado, não tinha a espuma protetora interna, apenas a "casca". Ficava mais folgado que um novo, mas não cumpria a função de segurança, tanto que foi apreendido. Mas o consumidor, irritado, não se deixou ouvir.

    Ali comigo ele estava receptivo. Consegui explicar que, no início, um capacete novo dá impressão de apertar a cabeça. Isto justamente por nos proteger. Com o tempo, o equipamento se ajusta ao nosso perfil, da mesma que nos acostumamos ao acessório. Uma questão de insistir. Senti que ele acreditou no que eu disse e retornou àquela mesma loja para negociar. Minutos depois, o gerente me telefonou, dizendo que ele foi lá e comprou um capacete.

    Meses depois, saio de um supermercado e, na rua, indo para o meu carro, uma moto se aproxima. O piloto dá uma acelerada e para. Usava capacete.Achei que fosse um pistoleiro ou assaltante. Ele tira o capacete e coloca novamente na cabeça, várias vezes, e se faz recordar. Disse-me: "Sou aquele cabeção! O senhor tinha razão, era apenas questão de acostumar. Agora uso na cabeça e nem sinto nada." E partiu. Eu nem me lembrava do caso, então recordei. Segui sorrindo, com a grata sensação do dever cumprido, ainda que distante do convencional!

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    Brinquedo assassino do amor

    Um consumidor veio a mim fazer uma reclamação. Disseram-me que pediu para não fornecer o nome. Apesar do anonimato, fugi à regra e aceitei ouvi-lo.

    Adentrou em meu gabinete com um objeto em mãos, a razão de estar ali. Na primeira impressão, achei que lembrava um órgão sexual masculino, mas também parecia um robô. O que seria aquilo? Fiquei intrigado.

    Realmente era um objeto erótico. O reclamante comprou num sex-shop. A embalagem dizia ser uma mistura de vibrador com prótese.Constava escrito "sucesso garantido"! Mas, pelo fato de o comprador estar num órgão de defesa do consumidor, algo deveria ter dado errado...

    Ele me disse a motivação da visita, uma cena inusitada! Era uma segunda-feira. E nosso reclamante tentou usar com sua namorada na última sexta-feira. Aí o problema: segundo ele, não houve nenhum 'uso' como deveria ser. A namorada estava há três dias rindo sem parar, nem conseguia falar com ele mais. Estavam a ponto de terminar o relacionamento!

    Achei engraçado, mas me contive. Cometi o erro de pedir a ele para ligar o objeto: que coisa mais ridícula! PARECIA AGORA REALMENTE UM ROBÔ. FICAVA GIRANDO, COM UMAS LÂMPADAS PISCANDO, UMAS HASTES TIPO BRAÇOS SE MEXIAM, ATÉ UMA SIRENE FICAVA TOCANDO!

    Senti intensa vontade de dar risada! Mas não podia, estava ali trabalhando. Reduzi minha respiração ao máximo, parecia ioga. Se respirasse um pouco para forte, eu cairia no chão em gargalhadas.

    O reclamante queria o dinheiro de volta e uma indenização. Esteveantes na loja, porém não lhe deram ouvidos. Tecnicamente, o que eu faria? Aquilo seria uma 'falha do produto', que não atinge sua finalidade? Talvez até atingiu: não garantiu o prazer sexual, mas garantiu à namorada do reclamante um prazer de boas risadas! O caso estava mais para estelionato...

    Como seria a prova técnica? Quem faria uma perícia para indicar se aquilo funciona ou não como era anunciado? A namorada teria que ser ouvida para dar a opinião dela? Minha vontade de rir aumentava, eu já me sentia com a pele roxa por segurar minha respiração. Eu iria entrar no estado zen, quase flutuava!

    Daí a luz: disse a ele que seria preciso assinar uma reclamação. Pedi sua identidade. Ele abriu a carteira, tirou o documento, mas parou e pensou. Disse-me que deveria ir até o carro, pegar algo que esquecera. ATÉ HOJE NÃO RETORNOU PARA ASSINAR A RECLAMAÇÃO!

    Evito recordar este episódio. Quando me lembro, eu começo a rir sozinho. E quem está próximo deve achar que estou meio doido!

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    Ulisses Moroni

    Espelhos da humildade

    Fui a um restaurante que muito frequento. Lá há espelhos e televisores em vários locais. Na mesa onde sentei, havia um televisor em frente e, bem à esquerda, outro. Éramos um grupo de três. Sentamos e passamos a observar as TVs. Nos dois televisores passava o mesmo programa. As mesas da frente a as duas dos lados também estavam ocupadas.

    Assistindo, parecia que a TV à minha frente estava um pouco 'atrasada' no tempo em relação à outra. Quer dizer, na TV ao lado uma pessoa chutava a bola de futebol.

    Quando eu virava para a TV da frente, o mesmo jogador ainda estava iniciando o mesmo chute. Se eu já tivesse bebido as cervejas que iria beber lá, tudo estaria explicado! Mas, sóbrio, fiquei intrigado. Os companheiros da mesa também notaram a diferença de tempo entre as imagens. O que estava acontecendo?

    Na mesa do lado direito ouviram nossa conversa e notaram o fato. Um garçom, próximo, também ouviu. Senti que ele iria falar algo. Mas, o pessoal daquela mesa grosseiramente 'cortou' o garçom. Nos disseram que aquele fenômeno se devia ao movimento rápido de nossos olhos e cabeça, uns noventa graus, entre uma TV e outra. Isto movimentava o cérebro, e dava aquela impressão...

    O garçom tentou falar novamente... A mesa à minha frente entrou na conversa e também o interrompeu. Disseram que o fato, em verdade, se devia às TVs serem de marcas diferentes.

    E o persistente garçom tentou falar de novo! Agora interrompido pela mesa da esquerda. Até comentaram que ele era audacioso, querendo saber demais! Deram seu veredito: as imagens dos mesmos programas, em tempos diversos, eram efeito dos espelhos nas paredes.

    Nenhuma destas explicações me convenceu. Notei que o garçom olhou para mim, mas desta vez nem insistiu, diante de tanta rejeição. Logo, se virou e partiu para a cozinha. Eu queria saber a opinião dele pois, tralhando ali, talvez já tivesse visto outras discussões sobre a TV. Dito e feito! Ele me falou que as imagens realmente tinham tempos diversos. Isto se devia a um fato técnico: UMA TV ERA SINTONIZADA NO SISTEMA ANTIGO, ANALÓGICO; A OUTRA, MAIS NOVA, JÁ ESTAVA SINTONIZADA NO SISTEMA DIGITAL DE TRANSMISSÃO DE IMAGENS.

    Fiz uma rápida pesquisa no Google sobre o fato, e nosso amigo garçom tinha razão. Os arrogantes vizinhos de mesas, se tivessem ao menos ouvido o atendente, talvez não perderiam seu tempo levantando hipóteses infundadas. Agora, quando vou até lá, chamo aqueles espelhos de "espelhos da humildade", em analogia às "sandálias da humildade".

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    Ulisses Moroni

    Redação, uma dívida eterna

    Observo pessoas repetindo histórias de sua vida. Cheguei a achar isto  falta de inovação. Hoje, entendo. Se vivêssemos eternamente, talvez nem teríamos passado. Como não é assim, nossa passagem por este mundo se torna um somatório de momentos. Daí os momentos marcante são contados repetidamente.

    Tenho algumas histórias de vida que sempre contarei. Uma destacada  certamente é sobre um detalhe no concurso de ingresso no Ministério Público de  Roraima. Um desvio intenso e ao mesmo tempo definidor da minha trajetória.              

    Devo a aprovação a isto que faço agora: ESCREVER. Claro que devo a meus pais, ao meu esforço, aos estudos, livros e professores e, evidentemente, à sorte. Mas, o diferencial foi a redação. Explico.

    Em 1997 eu fazia todos os concursos que apareciam. Queria um cargo de operador do Direito, e especificamente promotor de justiça. Saiu o edital,  e fiz inscrição para o concurso de promotor em Roraima. Tudo era difícil e concorrido. 

    Voltando mais no tempo, tive o privilégio de ter um curso específico de redação onde eu morava. Era semestral. Gostei tanto que cursei três vezes. Recomendavam aos alunos fazer duas redações por semana. Eu fazia uma ou mais por dia! Um amor eterno ali surgiu com o manuseio das palavras.

    Retornando ao concurso, faria num sábado prova de múltipla escolha. No domingo haveria uma dissertação, que deveria ocupar todo o espaço disponível. Seria corrigida pelo conteúdo jurídico e qualidade do texto.

    Eu até que era preparado, mas o conteúdo das matérias era extenso. Na quinta-feira anterior, li um texto de apenas uma página sobre HERMENÊUTICA CONSTITUCIONAL. São critérios para interpretar uma constituição. Literalmente,  apenas analisando o texto. Sistematicamente, analisando-a como um todo. Históricamente, conforme o momento em que foi elaborada. Teleologicamente, conforme o objetivo de cada dispositivo. Entre outros critérios. Algo amplo e complexo. 

    O tema da dissertação foi justamente Hermenêutica Constitucional! Um tema que conhecia pouco, mas tinha aquela pequeno texto na cabeça. Graças à prática de escrever, preenchi todo o espaço. E, do pouco que li, pude desenvolver extensos e lógicos raciocínios. Com pouca tinta, pintei uma área extensa!

    Resultado: obtive a nota mínima necessária na dissertação. Foi o suficiente para seguir e desenvolver as outras fases. No fim,  aprovação e rápida nomeação. É assim, então, que devo à redação, uma arte ou técnica, a um dos principais momentos de minha vida. Isso há 19 anos!

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    Crianças sempre crianças

    Aqui em Boa Vista tenho visto algumas cenas que demonstram a força de “ser criança”, de sua forma de ver o mundo. Três cenas que presenciei com nossos irmãos venezuelanos,
    que vêm para cá tentar vida nova:

    Na porta de uma lanchonete ficavam aquelas índias, com filhos pequenos ao lado, pedindo esmolas. Inclusive parece que saíram de Boa Vista, não mais as vi nos semáforos. Entrei na
    lanchonete e me pediram uma esmola. Não daria dinheiro, mas um alimento sim. Comprei um pacote de balas para meu filho e uns salgados para aquelas crianças, eram duas. Dei os salgados para a mãe, sob o olhar indiferente dos infantes. Quando viram na minha mão o pacote de balas, os olhos delas brilharam e passaram pedir as guloseimas. A mãe até não gostou, parece que somente ela deveria pedir esmolas. Mas entendi a mensagam e dei as balas às crianças. Que alegria sincera em seus olhos e sorrisos!

    Caminhando para meu o carro estacionado, vi uma cena mais forte. Numa lixeira, uma família de venezuelanos mergulhava para buscar algo. Era um lixo grande, um tambor, de um
    establecimento comercial. Também havia duas crianças, e de repente uma delas achou ali dentre algo similar a um brinquedo. Foi o suficiente para a outra se aproximar e brincar junto, pela calçada, se afastando dos pais que se mantinham mergulhados na lixeira. 

    Num caixa eletrônico de um banco umas duas ou três famílias venezuelanas se protegiam do calor sob o ar condicinado. E aproveitavam para pedir esmolas. Dentre oa adultos, apenas
    mulheres. Parece que eram avó, mães e tias. Umas cinco ou seis crianças com elas. Os adultos, na porta, um local estratégico, pediam cédulas. Estratégico, pois quem vai ali via de regra saca dinheiro.

    Como os adultos logo recebiam um sonoro não dos clientes do banco, então era a vez das crianças ‘entrarem em ação’. Elas iam até os clientes já nos caixas e pediam algo, geralmente
    estendendo a mão. Mas, ali também logo falava mais alto sua principal característica: serem crianças! Uma vinha por trás e pulava nas costas da outra, que passava a correr. As outras aproveitavam que o espaço era grande e passavam a correr também, umas pulando e sobre as outras, brincando e se divertindo!

    Sob o olhar meio reprovador dos pais, que talvez desejassem delas que fossem bem sucedidas nos pedidos de esmolas. Mas talvez se esquecessem que crianças, antes de tudo, da condição econômica, da nacionalidade, ou qualquer outra coisa, são crianças! Sedentas de brincar, pular, sorrir e gritar.

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    Ulisses Moroni

    Acessibilidade: sentindo os obstáculos

    Eu estava caminhando, e também correndo um pouco, numa praça aqui em Boa Vista. Um dos muitos bons espaços públicos que temos, nem todas as cidades são assim. Praça agradável, havia muita gente por lá. Já apresenta sinais de deterioração, pede manutenção. Espero que não deixem se acabar.

    Eu corria, quando de repente acabou a energia. Ficar no escuro, sem energia, também outra peculiaridade local... Tudo escuro por alguns momentos. Mas, durar alguns segundos não quer dizer instantâneo. Alguns segundos podem ser momentos infinitos. E foram.

    Corria, estando bem aquecido. Tinha pegado um bom ritmo, boa velocidade para a ocasião. Aquela praça tem sarjetas altas, e várias rampas que rebaixam na calçada, para cadeirantes. Também havia algumas obras, havendo objetos nas pistas.

    Crianças brincavam, e ciclistas pedalavam. Outras pessoas correndo e caminhando.

    Quando a energia cessou, apagando a iluminação, até que a minha “ficha caísse”, eu ainda corri um pouco. E confesso me senti plenamente vulnerável! Vi-me correndo a pé no escuro total. Nos primeiros momentos é pior, pois ocorre a adaptação da visão. Já me preparei para um acidente tipo: cair em buraco, na sarjeta, colidir com criança ou ciclista, colidir e me esfolar nos objetos das obras que estavam espalhados, colidir com alguma das várias pessoas que ali estavam também correndo ou caminhando. E outras incontáveis formas de acidentar-se!

    Logo, parei. A minha visão se adaptou à reduzida luminosidade. Controlei a situação, e as demais pessoas também assim fizeram.  Fizemos todos um contrato silencioso de cautela. Os faróis dos veículos passaram a servir de guia. Não tive como não me colocar no lugar de um deficiente visual. SEM LUZ, O MUNDO PARECIA UM LABIRINTO DE ARMADILHAS! Ainda que eles se adaptem à sua condição física, deu para ter uma impressão das suas dificuldades.

    Também coloquei-me no lugar de quem utiliza muletas. Precisam manter o máximo de equilíbrio, podendo cair com mínimo degrau no solo. Recordei-me de Herbert Vianna, músico que se acidentou e hoje é cadeirante. “Para quem utiliza cadeira de rodas, degrau de um centímetro torna-se um muro!”, disse ele.

    Fui-me embora caminhando, me guiando pelas luzes dos automóveis. Funcionou, exigindo muita atenção. Nada melhor para entender as barreiras do outro do que estar no seu lugar. Todos que lidam com arquitetura urbana deveriam caminhar e empurrar carrinhos de bebê pelas ruas. Serão mais eficazes na sua atividade!

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    Ulisses Moroni

    Nada como o tempo

    Certa pessoa enfim foi pleitear o BPC – Benefício de Prestação Continuada. Este o nome correto do benefício concedido aos maiores de 65 anos. Chamamos impropriamente de aposentadoria. É concedido a todos, mesmo sem ter contribuído para a previdência. Basta ser considerado economicamente carente, de acordo com a lei.

    Lembrando que o BPC tem o valor de um salário mínimo.

    Nosso protagonista é um brasileiro honrado, cidadão exemplar. Trabalhou mais de quarenta anos, até que passou a ter problemas de saúde, e teve que reduzir as atividades. Ficou contando os minutos para chegar aos 65 anos e conquistar um pouco de tranquilidade.

    Trabalhou tanto na vida que até deixou de pagar suas contribuições previdenciárias. Se assim tivesse feito, já teria se aposentado. Mas, sempre pensou na família, criou e formou sete filhos. Também conseguiu que a esposa não precisasse trabalhar enquanto os filhos eram pequenos.

    Para receber o Benefício de Prestação Continuada, necessário analisar a renda de todos que moram na casa. Quando ele preencheu o cadastro, colocou ela como sua companheira em união estável. Quando foram analisar os dados dela, constou que ela era casada, mas com outro homem! Isto parou o processo, esclarecimentos seriam necessários.

    Eles viviam juntos já mais de trinta anos, em união estável. Apenas com a força do amor, e sem papeis, como ele se orgulha de afirmar. Na juventude, ela foi casada formalmente com um sujeito trinta anos mais velho. Era ainda uma menina e, de hora para outra, foi viver com um estranho como sua esposa. Não deu certo e, antes que viessem filhos, ela foi-se embora, sem olhar para trás. Para não ver mais o antigo marido, nem foi atrás de fazer o divórcio legal. No ‘papel’, ela permaneceu casada com ele a vida toda. Sofreu demais, tanto que tentou esquecer tudo. O que gerou o problema para o homem de sua vida.

    Necessário identificar seu esposo, para resolver a situação previdenciária. Algo burocrático, mas inafastável. Ela dizia que o ex-marido chamava-se TIÃO DE TAL. Então, buscou-se incansavelmente um SEBASTIÃO. Até que ela encontrou um documento antigo, e constatou que o nome do ex-marido era JOÃO DE TAL!

    Fizeram pesquisas no órgão previdenciário, e constatou-se que JOÃO DE TAL tinha falecido há apenas um ano. Tudo esclarecido, foi deferido pedido do BPC. Disse que aquele período foi tão triste para ela, que resolveu esquecer tudo que conseguisse. Depois de um tempo, nem mesmo recordava o nome do ex-marido! Como diz o ditado, “o tempo cura todos os males!”

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    Ulisses Moroni

    Ficaram seis vidas para o gato

    Mudei-me para uma casa certa vez, e lá havia um gato morando. Era uma moradia coletiva, e um vizinho disse-me que era do antigo morador. O dono se foi, e o gato ficou, como diz a lenda. Era todo branco, parecia que tomava banho diariamente. Sinceramente, não gostei da ideia no início. Com o tempo fui me acostumando.

    O bichano era na dele, não fazia sujeira e não entrava em casa.

    Depois de um tempo, passei a comprar ração e colocar na varanda a noite.

    Moradia coletiva, estacionamento coletivo. Havia um portão motorizado, e cada morador tinha seu controle. Pintaram tudo de branco, o portão, capa do motor e o muro. Ficou da cor do gato.

    Uma manhã fui sair de carro e acionei controle para abrir o portão. Foi quando escutei uns gritos fortes, tipo pedido de socorro misturado a muita dor. Um enorme susto, vinha do portão. Até cheguei a pensar que tivesse prensado uma criança, tamanho meu pânico. Mas eu não via nada.

    O portão em movimento, tentei parar, mas não deu, abriu até o final.

    Olhei com muita atenção e descobri a causa: um gato todo branco ficou preso em meio ao portão, parede e trilho de movimentação. Como era branco, e o portão também, eu me confundi.

    A situação era trágica, o felino estava esmagado pelo trilho. Tentei tirá-lo, mas não teve jeito. Então a solução foi fechar o portão. O gato estava imóvel, aparentando morto. O portão fechou-se e o gato ficou livre. Tombou para o lado, caindo imóvel no chão.

    Cheguei perto para pegá-lo, quando tomei outro susto. O bicho soltou um miado forte, deu um saldo sobre o portão e caiu na rua. Correu como uma bala de revólver, logo sumindo.

    Fui trabalhar e no caminho lembrei do “meu gato”. Aquele gato prensado se parecia com ele. A noite eu teria certeza, pois o encontraria - ou não - em casa.

    Cheguei do trabalho e fiquei aguardando, mas o bichano não veio. Isto se repetiu nos dias seguintes. Hipótese: matei meu amigo de quadro patas!

    Dias depois, ouço um barulho na varanda, vou lá e quem encontro? O gato pedindo comida! Ele estava inteiro, aparentemente sem lesões.

    O leitor poderá questionar: será que meu gato realmente era aquele que foi esmagado no portão? Há muitas semelhanças entre gatos brancos... Realmente o questionamento tem lógica. Porém, minha certeza do gato esmagado ser o meu era absoluta.

    Quando chegou em casa, o gato parecia uma zebra, com as marcas do trilho do portão sobre o corpo. Então, nesta história teve apenas um gato. A conclusão é que a lenda é verdadeira: GATOS TÊM SETE VIDAS!

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    Ulisses Moroni

    20 anos, logo ali!

    Neste ano, 2016, retorno a 1996, e um número se ilumina como título da minha reflexão: Faz 20 anos! Como um susto, ou um acender de luzes, vejo que uma passagem importante de minha vida recebe agora esta coroa: duas dezenas de anos.

    Naquele ano, comecei a trabalhar na Justiça Federal em Franca, São Paulo. Logo depois, em 1998, saí de lá para assumir o cargo e a cidade onde estou até hoje. Uma rápida passagem, mas muito importante e marcante para mim. Retorno no tempo e tento olhar daqui, de hoje, a visão de futuro que eu tinha lá em 1996.

    A conclusão primeira é que lá, com 27 anos, eu não concebia como realidade ter em minha memória um lápso de 20 anos! Hoje eu me espanto pensando em fatos mais até mais distantes.

    Brevemente, espero escrever “há 50 anos!” Em outubro de 1996 fui convocado como mesário numa das primeiras sessões eleitorais com urnas eletrônicas. Uma experiência então pioneira, até desacreditada. Hoje, todas as eleições brasileiras são praticamente concluídas no dia da votação.

    Os celulares talvez fossem notícia de pesquisa no exterior. A privatização da telefonia apontava que muita coisa boa viria. Mas eu jamais pensava que em duas décadas haveria o tal celular totalmente difundido, qualquer pessoa podendo ser localizada onde está em qualquer lugar.

    Telefone era algo caro, pouco acessível. Hoje, há mais linhas telefônicas do que pessoas no Brasil. Ainda existiam máquinas de escrever.

    Os editores de texto vieram para tornar a arte ou ofício de escrever algo simples, acessível e eficaz. Mas eu testemunhei uma revolução: aprimoramento e difusão da internet. Informações e mais informações ao alcance de todos, de graça, a qualquer momento. Redes sociais para reduzir o mundo a uma vizinhança. Chance de todos falarem e mostrarem o que desejam. Na rede, enquanto o pedestre reclama da acessibilidade, o prefeito pode estar lendo. O artista faz seu show e pode ser notado por milhares de pessoas, sem gravadora ou propaganda. A garota bonita sai do cabelereiro, bota sua foto e vira uma modelo tão vista quando aquelas das capas de revistas. O Brasil realizaria Copa do Mundo e Olímpiadas, e fazendo bonito. Nossa seleção sofreria a mais humilhante derrota de sua história em casa. Mas depois conquistaria a medalha de ouro olímpica em pleno Maracanã!

    Nestes 20 anos, foram muitas as revoluções que vivi em minha vida e testemunhei no mundo. Que Deus me dê outros 20 anos, para eu me olhar hoje, aqui em 2016, e saber que meu otimismo na vinda mudanças intensas e positivas estava correto!

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    Ulisses Moroni

    A oportunidade e o livre arbítrio

    Três pessoas denunciadas por dois furtos, em residências de Boa Vista. Fatos ocorreram há mais de dez anos. Todos os réus tinham, na época, idades próximas aos dezoito anos.

    Processo antigo, fora encaminhado ao mutirão da justiça penal. Concluí a instrução processual, participando das audiências. Chamou minha atenção pelo destino dos réus.
            
    O primeiro, ao sair da prisão, foi participar de crimes mais graves. Ele acabou morrendo em confronto. Não sei se com outros bandidos, ou com a polícia.

    O segundo permaneceu na marginalidade. Não conseguindo emprego ao sair da prisão, voltou a furtar. Foi novamente preso e processado. Agora reincidente, ficou na cadeia mais tempo. Saiu novamente. E, novamente... 'caiu'. Não cometeu crimes mais graves, ficando 'apenas' nos furtos. Reincidente, terá dificuldades de sair em condicional ou liberdade provisória. AQUELA CHANCE QUE ELE TEVE LÁ ATRÁS... FICOU LÁ ATRÁS! Ele ainda é jovem, antes dos trinta anos. Terá outra oportunidade daqui a algum tempo.

    Porém, o terceiro reú chamou muito mais minha atenção. Considerado o mais perigoso dos três na época dos fatos, foi abandonado por pai e mãe. Envolveu-se nas chamadas ‘galeras’ de jovens, que pintavam o terror. “Semente de coisa boa” ele não era! Seguindo a lógica dos outros dois réus, eu não esperava boas notícias do terceiro.

    Fiquei muito surpreso quando ele entrou na sala. Era uma pessoa que eu conhecia de vista, um empresário local. Contou-me que todos ficaram presos pelo mesmo tempo, no primeiro fato. Foram soltos praticamente juntos.

    Assim que ele saiu da prisão, teve oportunidade de trabalhar com um serralheiro, na manutenção e fabricação de portões. Passado um tempo, pediu demissão para tentar ser empreendedor. E deu muito certo. Trabalham com ele atualmente umas doze pessoas. Tem dois filhos, mostrou as fotos.

    Houve tempo para conversar mais com ele sobre o assunto. Reconhece o erro que cometeu. Não expõe o fato do processo como cartão de visitas, pois se trata de passado distante. Hoje ele é outra pessoa. Disse que teve a oportunidade de trabalhar e precebeu que poderia dar algo melhor à sua vida. Fez isso. Sua mudança não se motivou por religião,  programas de recuperação governamentais ou mesmo um amor.

    Logicamente, foi condenado pelo furto cometido. Como era primário, e o crime não foi grave, houve substituição da pena de prisão por  prestação pecuniária. Uma ilustração do ditado popular: QUERER É PODER!

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    Ulisses Moroni

    Ainda tenho muito a fazer por aqui

    Eu lia um jornal de Manaus e vi uma notícia sobre a novel Avenida das Torres.

    Trata-se de via expressa que corta parte da capital amazonense.

    Via de alta velocidade, que fica mais rápida à noite.

    Recordei de um episódio ocorrido comigo nessa avenida.

    Quase me envolvi em um acidente, que provavelmente seria fatal.

    Eu andava dirigindo meu carro, à noite, já altas horas.

    Como não conhecia bem o lugar, sem querer adentrei na avenida sem parar!

    Talvez por ser obra recente, não havia placa de PARE na rua onde eu andava.

    Eu achava que estava na preferencial...

    Cruzei, e uma picape veio na minha direção pela via preferencial.

    Andava com velocidade superior a uns 100 km/h.

    Cruzei a avenida, quase junto à picape.

    Foi possível sentir o vento dela passando por detrás do meu carro.

    Um segundo a menos, e colidiria com minha porta.

    Provavelmente eu sofrereria uma lesão grave ou mesmo fatal.

    Desta recordação, outras cenas surgem, na minha parede da memória.

    Moleque, de bicicleta, uma vez fui querer segurar em um caminhão, pegando carona.

    Todo mundo fazia isto, achei que seria fácil. Segurei com a mão esquerda o caminhão, e com a direita o guidão da bicicleta.

    Era frio e eu usava uma jaqueta.

    Não sei o que aconteceu, mas minha roupa ficou presa no caminhão.

    Este corria cada vez mais, e eu não conseguia me soltar.

    De repente chegou um quebra-molas, e o caminhão reduziu a velocidade. Com salto do quebra-molas eu pulei, e minha roupa soltou.

    A bicicleta desgovernou, e fui ao chão, mas miraculosamente nada aconteceu.

    Menino ainda, resolvi descer um escorregador na lateral de uma piscina funda.

    Estava vazia, e tive uma "ideia brilhante": desceria até o fim da rampa e, antes de cair na água, com os pés eu parava.

    Detalhe: EU NÃO SABIA NADAR!

    Claro que não consegui parar e caí na água.

    Houve um milagre: invés de eu morrer afogado, aprendi a nadar!

    Outra vez, já adulto, entrei numa construção.

    Deveria usar capacete, mas não usei.

    Erro também quem deixou-em entrar sem a proteção.

    Uma barra de ferro cai do alto em cima de mim.

    Quando eu virei para ver o que acontecia, tirei a cabeça de sua trajetória.

    Senti o vendo nos meus ouvidos. O impacto foi tão forte que perfurou o piso.

    São muitas as cenas 'POR UM TRIZ' na parede da memória.

    O céu não me chamou em nenhuma destas ocasiões.

    Acredito que Ele quis me dizer que ainda tenho muito a fazer por aqui.

    Certamente o Criador, com sua concessão, espera que eu faça o bem.

    Espero não desapontá-lo!

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    Ulisses Moroni

    Monteiro Lobato: infância e brasilidade

    Saudade, muita e boa saudade!

    Esta a melhor para palavra para descrever a sensação que tive ao ver uma foto do principal elenco da primeira versão do "Sítio do Pica-pau Amarelo" - série de televisão baseada na obra do escritor Monteiro Lobato, criada e transmitida pela Rede Globo no final dos anos setenta e início dos oitenta.

    Os personagens da foto eram Dona Benta, Tia Anástacia, boneca Emília, Visconde de Sabugosa, Pedrinho e Narizinho. Estes os principais, de todos os episódios.

    Mas havia outros, a bruxa-jacaré Cuca, o saltitante Saci Pererê, Tio Barbabé, o porquinho Marques de Rabicó, o burro-sábio Conselheiro...

    Vendo isto, parece que retorno no tempo. Meus pensamentos voam e, como num filme, assisto-me em uma cena.

    Estou saindo da escola, segundo, terceiro ou quarto ano do primeiro grau.

    Naquele tempo se chamava assim. Hoje, o quarto e quinto anos do ensino fundamental.

    Eu saía das aulas querendo chegar logo em casa, para assistir ao 'Sítio'.

    Estudava à tarde. Saía rápido pelas ruas entre a escola e minha casa, calculando a velocidade dos passos para chegar na hora de o programa começar.

    Usava uma mochila tipo pasta, ia alternando de uma mão para a outra, para não incomodar.

    Antes, um copo de leite, pãozinho, alguma fruta, e... televisão!
    Quantas gerações de brasileiros não fizeram isto.

    Depois as crianças da série cresceram, e colocaram outras. Mas a primeira versão é inesquecível.

    Quanta infância, quanta alegria, quanta criatividade.

    A magia de Monteiro Lobato, a competência dos atores e produtores.

    Sim, pois os artistas da televisão se uniram com o artista das letras.

    O resultado foi sempre um bom episódio.

    Havia humor, suspense, conhecimentos técnicos e morais, inteligência emocional.

    Quanta alegria, que saudade!

    Pergunto-me se Monteiro Lobato teve aquela infância? Ou se inspirou na de seus filhos? Se foi assim, que paizão foi ele.

    E, porque não falar, quanto brasilidade!

    A Cuca, apareceu aqui agora.

    O Visconde de Sabugosa, sempre um cientista, um sábio.

    Emília, a percepção feminina aguçada em tudo que olhava.A música tema, seu refrão, "Sítio do Pica-pau amarelo, sítio do pica-pau amarelo...! Um trecho da música de um episódio: "Sete piratas sobre um caixão, ho!, ho!, ho!, e uma garrafa de rum. No fim da bebida, saiu confusão, ho!, ho!, ho!, e não sobrou nenhum! Tum tum tum tum tum tum". Cantada em coro. Que boa recordação!

    Passado sim, mas a alegria inesperada que estas lembranças trouxeram é presente, sentida aqui e agora.

    O bom passado é sempre presente, uma alegria conquistada na estrada da vida.

    Que o espírito de Monteiro Lobato reencarne, para criar histórias na era da internet, para as crianças de hoje!

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    Ulisses Moroni

    Boas notícias também existem

    São tantas as notícias negativas divulgadas na imprensa, que parece que tudo é ruim.

    As coisas boas da vida parecem não existir, ou então não viram notícias.

    Porém, estão no "mundo bom" que está a nosso redor, basta observarmos.

    Dia destes, andando pela rua fiquei positivamente emocionado.
    Frequentemente vou a um local aqui em Boa Vista, onde moro.
    Estaciono meu carro e sigo a pé por alguns metros.
    Neste dia que do fato aqui relatado foi assim. 
    Manhã de sol e céu azul, dia quente, um clima de felicidade! 
    Na minha curta caminhada entre o local onde estaciono meu carro e o destino final, passo defronte a umas casas, com as janelas abertas diretamente para a rua. 
    Além de abertas para a rua, são baixas e sem cortinas ou obstáculos. 
    Então, para não ver dentro do imóvel, necessário desviar o olhar. 
    Meu telefone celular toca, atendo e pedem para eu esperar enquanto a linha é transferida. 
    Já me condicionei a não andar falando ao celular, nem de carro nem a pé. Questão de segurança. Fico parado bem de frente a uma daquelas janelas, que estava aberta. 
    O sol me empurra para mais perto, onde havia sombra.
    Involuntariamente, presto atenção no que ocorria no interior da casa. 
    No local havia algumas crianças e adolescentes, umas quatro pessoas. Diria que talvez com idades entre uns 10 a 14 anos, não pude ver bem. Faziam tarefa escolar.
    Uniformes escolares, roupas brancas. Escola pública.
    Discutiam em voz alta, bem concentrados, sobre matemática. 
    Foi possível ouvir bem que o assunto tratava sobre ‘fórmulas e números’. 
    Um dizia que era assim que se resolvia a questão, outro dizia que era de outro jeito. Enfim, interação para aprenderem. Trabalho em equipe visando aprendizado escolar. Abriram livros, mostravam uns para outros. 
    Meu coração começou a ficar apertado.
    Não sei se pela saudade desta época escolar em minha vida. 
    Ou então pela beleza da cena que eu testemunhava.
    Em minha frente estava o “mundo bom”! 
    Para mim foi uma dose forte de entusiasmo na vida, acho que ganhei meu dia. 
    Aquelas crianças e adolescentes estudando sério, talvez para as aulas da tarde. 
    Não vemos publicadas notícias boas assim nos jornais.
    O ruim, o “mundo mau” tem mais divulgação.
    Coisas simples, de um bom e saudável cotidiano. 
    Dá para ver que o mundo vai bem, obrigado. 
    Saí dali entusiasmado em fazer minha parte corretamente.
    Para deixar este mundo melhor.
    Boa, simples e muito feliz cena cotidiana!

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    Ulisses Moroni

    Onde há vida há esperança (cada pessoa, uma lição)

    No meu trabalho, conheci um senhor que sofreu acidente grave. Ao mergulhar em um rio, ele bateu a cabeça e fraturou a coluna e, como consequência, está tetraplégico. Está, em linhas gerais, sem movimentos nos braços e pernas. O cérebro não consegue mandar seus comandos, devido à lesão na coluna cervical.

    Eu iria falar que ele FICOU tetraplégico. Mas, depois da conversa que tive com ele, vou dizer que ele ESTÁ tetraplégico.
    O acidente ocorrera há uns vinte anos.

    Com uns cinquenta anos, ele estava acompanhado dos filhos, que o ajudavam.

    Falei bastante com ele, possibilitado pelo momento.
    Iniciou-se naquela conversa, ali, uma aula de vida para mim.
    Contou-me que, em verdade, sofria de tetraplegia em menor grau. E explicou os diversos tipos desta situação.

    Até aquele momento, eu achava que todas as situações de tetraplegia eram iguais. Depois da conversa, vi que existem classificações.
    Falou da ida ao Hospital Sarah Kubistchek, em Brasília, referência mundial nesse tipo de tratamentos.

    Lá chegando, os pacientes são encaminhados para uma determinada ala, onde estão internadas pessoas com lesões mais graves que a daquele que chega.

    Ou seja, o acidentado, agora paciente do hospital, verá pessoas que estão em situação de saúde pior que a dele.

    E, no caso específico de meu personagem, realmente havia pessoas em situação pior, com mais limitações ou lesões.

    Saber, e ver, que sempre tem alguém que pode estar em situação mais desfavorável que a nossa é, talvez, o primeiro tratamento que aquele hospital oferece. Remédio gratuito contra a tristeza e a insatisfação.
    Lá, nosso tetraplégico recebeu orientações sobre novas atividades, como postura, higiene, comunicação, dentre outras situações.

    Seguindo na conversa, falou-me sobre as pesquisas com células-tronco. E como estas poderão recuperar órgãos danificados de muitas pessoas como ele.

    Explicou que no Brasil as pesquisas seguem determinada linha de pesquisa, enquanto outros países seguem outra.
    O brilho nos olhos dele era forte, quando falava sobre as pesquisas com células tronco.

    A esperança é um combustível para a vida. Seus olhos mostravam isso.
    Diálogo finalizado, tive a experiência de me sentir melhor e maior.
    Saí de lá aprimorado como pessoa.

    Aprender sempre, a todo tempo com qualquer pessoa.

    Todos sempre têm algo a nos ensinar. Exercitemos a humildade.

    Acreditar sempre que nossa vida, e o mundo, podem e irão melhorar.
    Esperança, um combustível da vida!

    Gratuito e a ao alcance de todos.

    A qualquer tempo, em qualquer lugar.

     

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    Ulisses Moroni

    Está em nossa frente

    Há pelo menos uns cinco anos, aqui mesmo em Boa Vista, sempre passo defronte a certo estabelecimento comercial .
    Normalmente de carro; às vezes a pé mesmo.
    Vou geralmente aos comércios vizinhos dali.

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    Ulisses Moroni

    Usar o celular, e não ser refém dele

    O celular talvez seja uma das criações mais revolucionárias do homem.

    Recordo-me quando não havia celulares, e vivia muito bem.

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    Ulisses Moroni

    Tão jovem e vendo maldade em tudo

    Tão jovem e vendo maldade em tudo

    Nestes dias vi poema e viajei na minha memória. “Retornei” a 1984, à escola onde eu cursava o primeiro colegial. Aula de literatura.

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