Em abril de 2002, Neudo Campos deixou o governo para tentar vaga no Senado Federal. Empossado como governador, Flamarion Portela extinguiu o DER e, segundo Levischi, “utilizou-se do ato para dar a impressão de que combatia a corrupção, supostamente havida na gestão anterior”.
Bode expiatório
Esporões de gafanhotos começaram a surgir quando pessoas que nunca tinham feito declaração de Imposto de Renda eram intimadas pela Receita Federal para justificar valores recebidos em exercícios passados. Nas eleições, políticos se acusavam mutuamente. E estavam corretos, pois Executivo, Legislativo e Judiciário de Roraima estavam contaminados. A questão não era saber quem era corrupto, era saber quem tinha roubado mais.
Levischi conta que, para dar apoio à campanha do ex-governador ao Senado, instituíra o PRTB em Roraima e, para esse partido, conseguira mais de 15 mil filiados. “Neudo, entretanto, dava claros indícios de que deixaria toda a culpa recair sobre mim, e, mais por mágoa do que pela razão, decidi lançar-me candidato ao governo do Estado”, diz.
A campanha eleitoral de 2002 transcorreu entre acusações, traições e outras coisas próprias de políticos de Roraima. Apesar do uso de métodos condenáveis pela Justiça Eleitoral e que custou a perda de seu mandato, Flamarion elegeu-se governador. Alguns deputados foram reconduzidos à Assembleia Legislativa; Romero Jucá e Augusto Botelho se elegeram senadores. O ex-governador Neudo Campos ficou em quarto lugar, com 10,87% dos votos válidos.
Devagar, mas firmes, Ministério Público e Polícia Federal conduziam investigações sobre a roubalheira em folhas de pagamento; depoimentos eram colhidos, informações eram confrontadas.
Instruídos por defesa bem paga, depoentes jogavam a culpa em Levischi. Ele afirma que, “com o rumo que as coisas tomavam, tinha medo de ser preso, assassinado na cadeia e, com sua morte, facilitar a vida de mentores e beneficiados pelo esquema de corrupção”.
Aconselhado por advogado, e sofrendo pressões, Carlos partiu para acordo de delação. “Eu não tinha meios financeiros para me defender e não havia sinalização de que Neudo e demais beneficiados com o esquema me ajudariam; ao contrário, se fizeram de desentendidos e me culpavam pelo episódio, como se eu pudesse ter os poderes necessários à sua execução”, justifica.
POEIRA DE AVIÃO pode ter acelerado investigações e levado à descoberta de esporões e asas de gafanhotos (www.campograndensenews)
Avião faz pouso forçado e levanta poeira
Em 22 de maio de 2003, um avião fez pouso forçado no entorno de Boa Vista. Dentro da aeronave abandonada foram localizados dólares e libras esterlinas (na época, equivalentes a R$ 3,5 milhões). Mistério.
Carlos Levischi diz que “a lenda conta que as investigações, sobre esse avião, levaram à NSAP, que levaram a procurações falsas e fraudulentas, que levaram ao esquema de gafanhotos com seus deputados, conselheiros do Tribunal de Contas e ao ex-governador Neudo Campos. Atiraram no que viram e acertaram no que não viram.
Agente federal, que pediu anonimato, diz que “como no avião havia indícios de cocaína, as investigações foram canalizadas para o tráfico de drogas ilícitas”.
Operação Praga no Egito
Seis meses depois, em 26 de novembro, a Polícia Federal deflagrou uma das maiores operações de sua história até então: pelo menos dois aviões, dezenas de veículos, uma centena e meia de agentes saíram à caça de criadores de gafanhotos e seus respectivos capatazes.
Enquanto envolvidos eram presos ou conduzidos para depor, na edição do dia 27, “O Globo” noticiou: “Neudo Campos (PP) foi preso no Lago Sul, em Brasília. Os demais foram detidos em Boa Vista. No fim da tarde, na chamada Operação Praga no Egito, a PF ainda estava caçando mais 14 supostos beneficiários do golpe responsável pelo desvio de aproximadamente R$ 500 milhões de verbas federais e estaduais”.
NEUDO CAMPOS quis tirar o dele da reta e jogar toda a culpa no ex-diretor do Departamento de Estradas de Rodagem (Boavistajá)
Carlos Levischi afirma não poder esquecer a data, pois, naquele mesmo dia, sua única irmã morrera em São Paulo.
A quem o acusa de maior culpado pela roubalheira, o ex-diretor do DER e operador do desvio de dinheiro pergunta: “Por que Neudo foi preso e eu não?”
O terceiro capítulo dessa novela que ainda está longe de ter o seu desfecho estará na próxima edição do Roraima Agora.