E ninguém queria mais a responsabilidade de ser governador do Lions Cube de Roraima. É que, para levar a coisa a sério, demanda tempo e muitos que abraçaram a missão ficaram momentaneamente sem condições de abraçar seus negócios.

Erasmo se viu praticamente forçado a assumir o cargo, no Distrito L-1, composto pelos estados de Roraima, Amazonas, Rondônia e o Acre. Na época, diretores do Lions no Amazonas, muito influentes dentro da Zona Franca, tiveram facilidade arrecadar fundos entre empresários e promover a maior convenção leonística jamais ocorrida no Brasil.

Iniciando-se no mundo dos negócios, o empresário de Roraima zerou saldo de conta bancária e rapou o fundo do tacho para, comparecer ao evento. Ali, decidir-se-ia quem iria a Hong Kong participar de convenção mundial da associação beneficente.

Erasmo Sabino foi o indicado. Por um lado, Sabino festejava a chance de visitar o outro lado do Planeta. Antevia, também, a oportunidade de encontrar-se com seu irmão, Genivaldo, diplomata, que à época, servia na representação brasileira em Pequim. O problema seria dinheiro para bancar despesas pessoais na grande viagem. O potiguar usou a máxima “já que tá gostoso deixa”.

No encerramento da convenção amazonense, muitos dos presentes teriam que fazer pronunciamentos. Erasmo, que até então só tinha discursado para alunos em sala de aula, apesar de ter rabiscado roteiro para improviso de sua fala, estava nervoso. Ficou ainda mais nervoso quando viu pessoas do naipe de Gilberto Mestrinho e Arthur Virgílio Neto sentados à mesa dos trabalhos.

Apesar de alguns copos de cerveja, os belos discursos deixavam Erasmo com medo de fazer feio. “Como fazer bonito depois de um Mestrinho ou um Arthur Virgílio?”, pensava. Sabino até cogitou abandonar o recinto sem dizer nada. “Filho de Chico Fumeiro não foge da raia”, ponderou.
Eis que o nome de Erasmo Sabino de Oliveira foi anunciado. Ao púlpito, como disfarce para seu nervosismo, o empresário ajustou o microfone e, sem abrir o roteiro que trazia no bolso do paletó,depois de saudar os presentes, desabafou:

- É praga de mãe... A plateia não entendeu nada. Erasmo deu sequência: “Nunca em minha vida, eu pensei em fazer viagem internacional. Hoje, lembrei-me de minha mãe que, quando se via atentada, gritava a qualquer um de seus filhos: “Menino, vai pra China”. Meu irmão, Genivaldo, é diplomata e, hoje, mora em Pequim. Eu, dentro de poucos dias, estarei em Hong Kong. Se as coisas continuarem nesse embalo, logo, logo, todos os filhos de Chico Fumeiro, meu pai, terão ido ao outro lado do mundo pra cumprir a praga que dona Severina, minha mãe, rogou.

Risos. Aplausos. Bem à vontade, Erasmo sentiu-se tranquilo e encerrou seu discurso. Até Mestrinho e Arthur Virgílio o aplaudiram de pé. No seu jeito simples de ser, Erasmo chorou.