Criado em 1943, o Território Federal do Rio Branco recebia governadores escolhidos no Distrito Federal. No início da década de 1960, o novo governador trouxe, em sua equipe, um tenente que, na função de ordenança, fazia tudo o que seu mestre mandava. Insistente e persistente, tenente Palma Lima conseguiu ser nomeado prefeito de Boa Vista. 

Palma Lima era apaixonado pelo Exército e tinha verdadeira adoração pela farda verde-oliva. Usando sempre impecável uniforme engomado e vincado, sapatos tão brilhantes que refletiam a luz do sol, óculos Rayban – independentemente do local e da hora do dia –, o tenente gostava de desfilar entre sua moradia, na Praça do Centro Cívico, a residência governamental, na avenida Jaime Brasil, e o Palácio do Governo, que ficava na esquina da rua Coronel Pinto com a avenida Getúlio Vargas. Narcisista ao extremo, ele imaginava que a população o admirava da mesma maneira que idolatrava os astros do cinema americano daquele tempo. 

No peito, Palma Lima carregava muitas medalhas. Até hoje, não sei onde nem como o militar conseguiu tantas comendas. Diziam até que ele comprara alguns daqueles enfeites. 

Na cidade, a empáfia do militar tornou-se motivo de piada e deu origem a algumas expressões. Se um cidadão comparecia muito elegante a qualquer acontecimento, alguém comentava: "Tu estás mais bonito do que a farda do tenente"; se uma mulher surgia com brincos, exagerados cordões e pulseiras de ouro, ouvia: "Tu estás mais dourada do que o peito do Palma Lima". 

O tenente sentia tanto orgulho da farda que fazia questão de pendurá-la na janela de seu quarto no Hotel Boa Vista, hoje, Aipana Plaza. Com as medalhas cuidadosamente viradas para a entrada do estabelecimento, claro.
Exonerado o governador, Palma Lima deixou Boa Vista. 

Certo dia em Manaus, lanchando na Sorveteria Siroco, olhei para o lado e vi, na janela de quarto térreo do pequeno Hotel Ideal, uma jaqueta verde-oliva bem passada, bem vincada. Dezenas de medalhas naquela peça de roupa chamaram minha atenção. Pedi a conta e assuntei com o garçom:

- Você sabe o nome do militar que mora naquele apartamento?

Com sorriso maroto, o rapazola me respondeu:

- Quem mora aí é o Tenente Medalhinha. – E arrematou: "Toda tarde, ele se fantasia de general e faz plantão na esquina pro povo admirá-lo".